Bem-vinda!!

Bem-vinda ao nosso blog!
Aqui, mamães muito diferentes mas com um único objetivo compartilham suas experiências nesta grande aventura que é a maternidade! Nós queremos, acima de tudo, ser mamães sábias, que edificam seus lares e vivem com toda plenitude o privilégio de sermos mães! Usamos muitos dos princípios ensinados pelo Nana Nenê - Gary Ezzo, assim como outros livros. Nosso objetivo é compartilhar o que aprendemos a fim de facilitar a vida das mamães! Fomos realmente abençoadas com livros (e cursos) e queremos passar isso para frente!


"Com sabedoria se constroi a casa, e com discernimento se consolida.
Pelo conhecimento os seus cômodos se enchem do que é precioso e agradável"
Prov. 24:4,5

domingo, 10 de julho de 2016

Carta à minha filha Alícia (4 anos – deixando de ser a caçula!)



Querida filhinha,

Como você é preciosa! Você ainda não sabe ler, mas muito em breve aprenderá e o meu desejo é que, daqui alguns anos, você descubra este blog e se delicie lendo estas palavras que foram carinhosa e exclusivamente escritas pensando em você.

Começo lembrando como foi traumático o parto que marcou a sua chegada ao mundo. Não por sua culpa, minha querida. Por favor, nunca pense isso! Você foi planejada, desejada e amada por nós e por Deus desde o ventre e, embora a gestação tenha sido muito difícil para a mamãe, o papai se desdobrava para tentar dar atenção a nós e também à Nicole, sua irmã mais velha que, na época, tinha apenas 1 aninho.

Ainda hoje, toda vez que volto às fotos e filmagem do seu nascimento meus olhos se enchem de lágrimas. Como queria ter pelo menos uma foto com um sorriso sincero no rosto comemorando o seu nascimento, mas a verdade é que tudo o que aconteceu naquele dia - o tratamento frio e desrespeitoso que recebemos num momento tão importante das nossas vidas - me abalou profundamente e deixou marcas que somente o Senhor Jesus Cristo é capaz de restaurar e usar para o nosso bem. Sim, porque você sofreu e se abalou tanto quanto (ou até mais do que) eu, princesa, e isso foi algo que eu, infelizmente, demorei anos para entender. Você veio como uma bebezinha frágil e indefesa, precisando de carinho e paciência dobrados, mas hoje vejo que eu não tive tanta sabedoria para compreender a fragilidade das suas emoções e inseguranças.

Nos quatro anos que se passaram até aqui, você viveu como a caçula. Como a mais nova da casa, por muitos anos você ficou na sombra da sua irmã, geniosa, impaciente, se frustrava com facilidade e não gostava muito de se arriscar ou de encarar novos desafios. De uns tempos para cá, temos notado que esse padrão começou a mudar: aos poucos você está desabrochando e lutando para conquistar o seu espaço e a sua identidade própria. Filhinha, papai e eu estamos orgulhosos em ver o quanto você amadureceu e se desenvolveu nos últimos meses! Você está ficando mais tagarela e confiante ao expressar suas ideias, está saindo cada vez mais da sua zona de conforto e, com isso, sua personalidade está ganhando forma e começando a aparecer.

Você literalmente é uma princesa - toda meiga e delicada - e também vaidosa e pra lá de maternal. Ama usar saias e vestidos, passar batom e usar perfume. Gosta de usar anel e dá preferência para tudo o que é rosa ou cheio de brilho. Quer ficar de sapatinho de lantejoulas até dentro de casa. Quem me conhece sabe que não sou de influenciar, pelo contrário até desincentivo esse tema de princesas, mas na hora da leitura suas histórias preferidas são as que envolvem princesas, casamentos, bailes e reinos encantados. Sua cor preferida é rosa e a brincadeira favorita é "mamãe e querida".

Em algumas semanas, você deixará de ser a caçulinha da família porque o Papai do Céu está enviando mais uma linda flor para o jardim da nossa família. A Alana está chegando aí e já vemos como você, doce e carinhosa, se mostra feliz com a notícia. Você abraça a minha barriga, a beija, canta musiquinhas para a irmãzinha e imagina (em voz alta) como será a vida em casa quando ela estiver aqui no nosso meio. Eu me emociono em ver a sua compaixão tão nitidamente – este, sem dúvida, é um dos dons do Espírito com que Deus a presenteou! O seu desejo de ajudar e o seu companheirismo são características que papai e eu temos notado que marcam a sua personalidade. Como mãe, estou confiante de que a mudança – de caçula para a irmã do meio – irá contribuir ainda mais para o seu crescimento emocional.

Filha, nos alegramos muito com as suas conquistas até aqui e queremos que saiba o quanto você é especial para nós. Não sei porque o seu começo de vida precisou ser tão duro, mas tenho certeza de que Deus já está transformando-o em algo lindo. Porque, como oramos e profetizamos sobre você no dia em que você nasceu, com base no texto de Jeremias 29:11, o Senhor sabe os planos que tem para você. Acredito que até mesmo a escolha do seu nome – Alícia, que significa “a verdadeira” e “de origem nobre” - não foi por acaso. Nossa oração é que Ele sempre a tenha em Suas mãos e que você se permita ser moldada por Ele. Afinal, é dEle que vem toda a verdade e a nobreza, e o que Ele tem reservado para você são “planos de fazê-la prosperar e não de lhe causar dano, planos de dar-lhe esperança e um futuro”.

Com muito amor,
Mamãe :)

PS. Este post eu escrevi em novembro de 2015, mas deixei nos rascunhos porque queria procurar uma foto. Logo em seguida nossa família imigrou para o Canadá e o post foi esquecido! Hoje ao conversar com minha irmã me lembrei dele e resolvi publicá-lo!

domingo, 4 de outubro de 2015

Emocionante VBAC humanizado! Relato de parto natural domiciliar com transferência.

Olá a todas!

Puxa, quantos meses estou sem publicar. O tempo realmente voa! Os últimos meses foram intensos e desafiantes para a nossa família. Meu marido ficou por 1 ano desempregado (apenas fazendo trabalhos avulsos de casa), eu finalmente concluí os meus estágios e terminei a faculdade - sim, agora sou oficialmente pedagoga! - e, por fim, estou GRÁVIDA de novo. Vem aí mais uma menininha para perfumar o nosso jardim de flores, hehe. Estamos felicíssimos. Esta semana completei 26 semanas e em breve (espero!) pretendemos nos mudar de casa para acomodar melhor a nossa família que cresce e também para ficarmos mais próximos do local de trabalho do marido que é em outra cidade. Muitas novidades, né? Os detalhes de como está a gestação, os planos para o parto, o homeschooling, os novos aprendizados e afins ficarão para uma próxima oportunidade porque hoje eu vim especialmente para publicar o relato de parto VBAC (vaginal birth after caesarean) de uma amiga da época de escola, a Juliana Dawel Laviola.

Um relato emocionante!! Confiram abaixo. :)

Um abraço,
Talita

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Trabalho de Parto – Ju e David – 19/03/15

Introdução: Meu primeiro parto foi uma cesariana provavelmente desnecessária. Digo provavelmente porque não há como ter certeza, a desculpa da médica: desproporção céfalo-pélvica. Essa é uma real indicação de cesárea, porém, muito rara. Dadas as condições: bolsa rota sem trabalho de parto às 7:00, internação precoce às 9:00, indução com ocitocina sintética, puxos dirigidos durante quase todo o processo, anestesia com somente 4 pra 5 cm de dilatação, muito cansaço e indicação às 17:30 me levam a crer que realmente houve falta de paciência para a evolução completa do TP. Isso me frustrou, e muito. Não sei porque, mas sou uma mulher com vontade imensa de parir meus filhos, por isso a frustração. Deitar naquela maca e abrir a janela para os familiares me fez sentir-me exposta, uma atração de circo, durante um momento de chateação. O meu problema: eu gosto de pensar nos outros e neste momento, era a última coisa que devia ter feito. Quis respeitá-los pelas horas de espera e dá-los o gostinho de verem a Nicole nascer. Todos estavam muito felizes, recebi sorrisos sinceros naquele momento, amo a todos que ali estavam mostrando seu amor por mim e pela mais nova integrante da família, porém, fiz errado, não foi bom pra mim.
Alguns conceitos do mundo do "parto com respeito" me foram apresentados pela Talita, que hoje me convida para escrever em seu blog. Mas não me lembro exatamente como fui me aprofundando no assunto. Antes de engravidar, lia muitos relatos de parto, assistia a vídeos de parto e comecei a estudar e compreender o que havia acontecido comigo e chegar a uma conclusão: eu queria parir sozinha, em meu lar, no aconchego da minha casa, sem plateia, sem que ninguém soubesse, inclusive. Queria o melhor para meu bebê, o menos traumático para ele, mesmo que exigisse que eu passasse pela maior e mais intensa dor da minha vida. Mas, como estava aprendendo, seria dor de vida, dor que valia a pena, dor que traria meu bebê da maneira mais saudável e natural possível. Era isso o que eu queria, estava decidida!
Engravidei, fui atrás da minha equipe. Conheci a Ana Cristina Duarte e me identifiquei com sua simplicidade e profundo conhecimento do assunto. Me senti segura. O restante da equipe escolhi por indicações dela: Janie Paula (doula) e Juliana Sandler (médica obstetra para plano B - caso precisássemos ir para o hospital numa emergência ou até por opção - e para acompanhamento do pre-natal em conjunto com a Ana Cristina). Às 38 semanas e 6 dias, entrei em trabalho de parto. Segue meu relato como foi sentido por mim:

Era quarta-feira, a madrugada havia sido estranha… acordei umas 4 vezes com dor forte, uma cólica, que passava após alguns minutos. Levantei por volta das 10:00 com a Nicole - 2 anos e 11 meses - me chamando: “Quero leite, mamãe”. Segui com a minha rotina, as contrações vinham fracas, mas não paravam. Não avisei a Janie, minha doula, afinal, estava em pródromos há 4 dias, o tempo todo em contato com ela, que me dizia: “Viva a vida! Aproveite os últimos dias de barriga! Coma coisas gostosas! Faça tudo o que quer e gosta! Pode ser hoje, mas pode não ser! Não fique parada esperando o TP (trabalho de parto) começar!” OK! Então era isso… continuei vivendo! A Nicole não iria à escola naquele dia, pois tinha pediatra. Combinei horário com a minha sogra, que iria me acompanhar na consulta. Mas doía… estava ficando com medo… deveria mesmo sair de casa? "Ju! Sem fazer alarde! Não avise ninguém! Viva a vida!" Liguei a TV para Nicole e fui deitar… não conseguia fazer mais nada.
Ao meio-dia resolvi contar contrações. Pensei: "Não é possível que isso seja normal, estão muito frequentes, não param!". Sim, estavam regulares, a cada 3 minutos. Mandei mensagem pra Janie que me disse: “Não saia de casa e chame seu marido. Ainda não sabemos se vai engrenar, mas fique quietinha no seu lugar”.
Cancelei com a minha sogra e fui sentar com a Nicole no sofá. E ela, tão sensível, me surpreendeu: “Mamãe, vai deitar na sua cama, você precisa descansar”. “Mas, eu quero ficar com você”, respondi. E ela: “Não mamãe, eu fico aqui sozinha, você vai lá na sua cama descansar”. Então eu fui! Não sei quanto tempo se passou até que a Janie me ligou: “Ju, to indo para aí. Vai tomar um banho bem relaxante”.
Chamei a Nicole a fomos as duas para o chuveiro. Sentei num banquinho e a coloquei na banheira no chão. Era muito bom ficar lá! Enquanto brincava na água, ela dizia: “Sabia que tem uma Gabi (Não me perguntem porque esse nome!) na minha barriga? Ela vai sair hoje…” Mesmo eu não tendo falado nada, ela percebia tudo! Como duvidar da sensibilidade das crianças?
Saí do banho e pouco tempo depois, o Daniel chegou. Me deu um abraço e me confortou: “É hoje! Vamos conhecer o nosso bebê!” Mas eu não acreditava que poderia ter chegado a hora e dizia: “Calma, pode regredir, não sabemos se é hoje”. Eu continuei deitada e ele foi até a cozinha e voltou com uma cesta cheia de guloseimas deliciosas que ele mesmo vinha comprando nas últimas semanas especialmente para o TP. Tinha chocolate, castanha de caju e iogurte. Durante as primeiras horas, comi quase tudo! Foi muito bom ter essas guloseimas ao meu lado e o incentivo de todos ao redor para que eu comesse porque, se dependesse de mim, não teria tomado nem água!
Logo em seguida (devia ser umas 14:00) chega a Janie, a minha doula, e a querida Anna Amorim, que escolhi para fotografar este momento. Ela, tão sensível e experiente, também me trazia palavras de conforto. Janie me deixou muito à vontade, fazia cafuné, massagens e até uma trança no cabelo ganhei! Decidimos chamar a minha sogra para buscar a Nicole, afinal, ela não queria ficar por perto e insistia que eu descansasse!



Após a chegada delas, perdi totalmente a noção do tempo. As contrações se aproximavam e eram cada vez mais doloridas (aliás, umas mais fortes e outras menos). Finalmente me convenci de que estava chegando a hora e me animei, achava que até as 22:00, o David teria nascido. Imaginei chamar a família para vir conhecê-lo no mesmo dia, comeríamos uma pizza e celebraríamos!
A Janie me aconselhou a levantar, caminhar. Disse que a Letícia (obstetriz auxiliar da Ana Cris) estava chegando. Fui para a sala e lá fiquei conversando entre as contrações, curtindo o momento! Sim! É possível curtir um TP! Meu marido tocava violão para mim, era um som agradável, que me trazia muita paz.



A Letícia chegou* e me examinou. Disse que estava tudo ótimo e evoluindo.
Dilatação acontecendo! 
Ok! Eu sentia que estava conquistando cada etapa, e que estava fácil. Apesar das dores, me sentia ótima! Sentei na bola de pilates e descansava o corpo na cama entre as contrações. A dor era intensa na região lombar. Janie fazia massagens e aquecia com uma manta elétrica. O calor ajudava muito! Eu vocalizava a cada contração, orientada pela Janie. Emitir um som ajudava, aliviava.


Em seguida fui para o chuveiro. Sentada na bola de pilates deixava a água escorrer, hora nas costas, hora na barriga. A dor nas costas era definitivamente a mais intensa. Eu continuava tranquila e, neste momento, entendi o que era a famosa “partolândia”: para mim, foi um estado de semi-consciência, onde, em meio à dor, se sente prazer e, os pensamentos se misturam e pouco se consegue falar. A bolsa amniótica ainda estava íntegra e eu já estava imaginando meu bebe nascendo empelicado (quando nasce envolto na bolsa amniótica). Sempre achei este fenômeno incrível e adoraria presenciá-lo! Daniel sentou num banquinho à minha frente e segurava a minha mão, me incentivava, falava poucas palavras, mas a sua presença era tudo que eu precisava. Me sentia segura.
Enquanto eu estava no chuveiro, elas enchiam a piscina na sala. Saí do chuveiro direto para ela. Foi uma sensação deliciosa! O tempo passava e, da piscina, voltei para o chuveiro, o dia havia escurecido, mas não tinha ideia do horário e nem me passou pela cabeça de perguntar! A dor aumentava, durante as contrações, um pensamento: Não aguento mais! Quanto falta? “Ahhhhhhh”, vocalizava e o tempo passava. Eu tinha ânimo, estava perto, deveria estar, só podia estar!


Não sei em que momento a Ana Cris chegou*. Na partolândia, perdi a noção do tempo e da sequencia exata de eventos! Em um determinado momento, dentro da banheira, ela me pediu permissão para fazer um toque. Me informou um colo de 8 cm… Desanimei tudo o que havia animado… Ela, com um sorriso no rosto, disse que estava tudo ótimo e que estávamos indo bem.

Eu relaxava contra a parede da piscina em cada intervalo. Fechava os olhos e até cochilava. Neste momento ganhava força, me recuperava para a próxima contração. Ficava maravilhada com essa perfeição, um tempo de descanso, onde tudo passa e os pensamentos invertem: Nem foi tão ruim assim. Estou indo bem, até que é fácil!


Neste momento*, finalmente veio uma vontade de fazer força (comparando hoje à força que fiz no expulsivo mesmo percebi que a vontade que tive neste momento não se comparava à força necessária). Me animei! Fiz uma, duas, três… não sei quantas mais… mas nada acontecia. Sentia, agora, que o David ainda estava longe. Tentei chamar por ele: “Vem, David. Vem, bebê!”.
A dor, intensa, sim, mais do que eu imaginei que seria. Em meio aos pensamentos daquela semi-consciência maluca, eu disse para a Janie, que estava sentada atrás de mim, na beira da piscina: “Acho melhor...”, “O que é melhor, Ju?”, “Acho melhor eu tomar uma anestesia”, “Eu não acho, Ju... seu corpo está trabalhando. Deixe a dor agir. Deixe ela fazer o que ela precisa fazer.” Eu queria muito saber quanto faltava, mas a cada contração a única coisa que era possível saber é que era uma a menos, uma mais próxima de eu conhecer o David.
Ana Cris pediu para me examinar de novo, desta vez durante uma contração. A bolsa estava muito firme. Chegava a entrar no canal de parto e voltava. Isso me fazia sentir vontade de fazer força, mas esta vontade não vinha em todas as contrações e não era forte também, como eu sempre havia ouvido que seria. Me sugeriu que eu tentasse estourar a bolsa. Eu não queria sair da água, mas fui convencida. Isso aceleraria o processo.


Ficar em pé deveria ajudar, me pendurei no Daniel, as contrações eram alucinantes, literalmente, não me sentia mais dentro de mim. Sensação única e inexplicável. Segui as orientações e fiz uma série de puxos dirigidos (quando se faz força durante a contração, mesmo sem vontade). E nada... a bolsa não estourava. Depois de um tempo*, Ana Cris me deu a opção de ir para o hospital para realizar o procedimento de rompimento artificial da bolsa. Eu queria muito que o David nascesse em casa. Não aceitei de cara. Quis continuar mais um tempo. Letícia acompanhava os batimentos do bebê durante as contrações. Mais tempo passou e nada. Eu não queria mais fazer força, estava começando a ficar com medo. Os pensamentos invertiam novamente... Não estava dando certo. Num determinado momento, Ana Cris se levanta e diz: “Ju, vamos ter de terminar no hospital”. Ela explicou que estava tudo bem, que houve uma pequena desaceleração nos batimentos cardíacos do bebê fora de contração. Ainda não era considerado um padrão anormal mas, por precaução, deveríamos acelerar as coisas, e tinha de ser no hospital.
Misto de frustração e alívio, este era o sentimento do momento. E medo, também havia o medo… como sair do apartamento para a rua com dor? Como seria o trajeto? Vai dar tudo certo? Voltei a mim, ou seja: racional, calculista, preocupada, insegura… perdi toda aquela sensação única causada pelas fortes doses de ocitocina correndo pelo sangue a cada contração. Perguntei que horas eram para a Ana Amorim: “3:00”. Não acreditei! Pensei: "Era pra ter nascido há muito tempo! O que há de errado comigo?!". Comecei a duvidar da minha capacidade de parir meus filhos.
Descemos de elevador, entramos no carro, chegamos ao hospital: deu tudo certo até aqui. A entrada para a sala de parto foi rápida. Ao encontrar com a Dra. Juliana, GO escolhida a dedo para ser o plano B, pedi anestesia. Sua resposta: “Calma, vou examiná-la”.
Na sala de parto*, deitada na maca, conheci a Dra. Vânia, pediatra também escolhida com carinho para cuidar do meu maior bem dentro da frieza daquele hospital. Lembrei-me de me desculpar por ter faltado em sua consulta naquela tarde. A Dra. Ju então disse: “Vamos para a banqueta, seu bebê já vai nascer!”
Não, mas eu quero anestesia! Por favor, por favor!” Eu queria desistir: Pare essa montanha russa porque eu quero descer. Mas o parto é realmente como uma montanha russa, depois que apertou o cinto, tem de sentir cada frio na barriga até que ela volte ao ponto de partida.
Ju, você não precisa dela. Seu bebe está pronto, vai nascer já, você aguentou até aqui, agora está muito perto!”.
Mas eu não quero mais. Por favor!”, falei enquanto levantava e me dirigia à banqueta, apoiada pelo Daniel. Ao sentar, Janie com seriedade falou: “Só você pode trazê-lo para seus braços! Você quer isso! Você pode e consegue! Força, falta muito pouco!”.
Dra Ju estourou a bolsa assim que me sentei. Não me lembro de sentir nada neste momento e tudo passou muito rápido dali pra frente. Foi mais de uma hora, mas para mim foram como 5 min!
Ao me sentar, me senti no centro de um estádio, a ponto de alcançar a maior vitória da minha vida. Todos os rostos ao meu redor radiantes, sorrisos para todos os lados, e uma grande torcida: “Vamos Ju, você consegue! Está quase lá! Não desista! Força Ju, força”. A voz do Daniel em meio às outras se destacava e me dava segurança. Se ele está dizendo é porque está tudo bem, realmente está perto, eu realmente consigo.
O tempo passou rápido daqui pra frente. Bolsa estourada, eu concentrada ao máximo, não me lembro da dor, mas sim uma pressão, imensa: vou estourar, vou explodir, como faz isso?!
Ele está aqui Ju, olhe!” No espelho eu via os seus cabelinhos: “Que cabeludo Ju, ele vai nascer! Força!”, era o Daniel, novamente, o melhor incentivo que eu poderia ter!
Alguém pegou minha mão: “Toque nele, faça carinho, Ju!” Ainda dentro de mim senti sua cabecinha, quente, macia. Olhava no espelho, aquilo era inacreditável! Que sensação única, que coisa linda! A cada contração força, muita força, do tipo que não sabia que havia dentro de mim!
E sua cabecinha saiu! Eu não acreditava!
Estava cansada, exausta, mas estava acabando. Só mais uma Ju! (Sim, eu acreditava que ele viria em só mais uma contração.) E assim foi, ele veio e foi amparado pelas mãos do pai. 



Daniel me entregou ele: “Pegue Ju, pegue seu filho! Ele nasceu, você conseguiu, Ju!” Era muita emoção, eu ouvia seu choro, mas estava sem reação, como se o tempo tivesse parado, eu congelada. Tudo continuava em movimento à minha volta, mas eu travei. Tudo isso em frações de segundo… Peguei meu bebe no colo, o encostei no peito, tão quente, liso, todo molinho. Ele parou de chorar no mesmo instante que toquei nele. Que mágico, sobrenatural, incrível, sensação única, maravilhosa!

Em minha mente, agradeci a Deus, que criou este sistema, que criou a relação mãe, filho e parto, que é vivido só pelos dois, juntos, numa sintonia única, que se completam um pelo outro: o bebê e sua mãe, eu e o David. Daniel chorava ao meu lado, emocionado, me elogiava: “Como você foi incrível, Ju! Que mulher! Nunca mais vou olhá-la com os mesmos olhos! Você foi demais!”. E elogiava o bebê: “Como ele é lindo, perfeito! Que incrível!” Deixei que ele proferisse as palavras, pois eu, só conseguia sentir... e olhar, e cheirar e ouvir, seus grunhidinhos. Curti, curti e curti aquele momento, aquele corpinho contra o meu, ainda ligado pelo cordão dentro de mim.


Me acordaram! Precisava levantar para deitar de volta na maca. E eu levantei, apoiada mas sozinha, andando, após o parto. Isso é possível! Deitei na maca com ajuda, pois o segurava como se fosse um cristal, caro e delicadíssimo. Olhei no relógio: 4:50! Mais uma contração, fraca, quase sem dor, e nasceu a placenta. O órgão que manteve vivo meu filho por 9 meses me foi apresentado. Apertei o cordão ainda ligado ao bebê, todos aguardaram para que ele recebesse todo sangue, tão rico, presente no cordão enquanto pulsava. E ele foi cortado pelo Daniel quando parou de pulsar.
Deitado sobre mim estava meu presente, minha vitória, tão pequeno. Quis então passar a mão, conferir! Perninhas, mãozinhas, as costas, enrugada e macia, cabeça cheia de cabelo, olhos apertadinhos, mas abertos, bem abertos, olhavam para mim. Coloquei-o no seio e ele mamou, lindamente! Sim, nasce sabendo! E era meu, só meu. 
Estava dentro de mim e eu o trouxe para meus braços, sozinha (porque sim, era aquele o meu papel), mas acompanhada, por pessoas que me ajudaram, demais e sem as quais nada teria sido como foi: Daniel, Janie, Ana Cris, Letícia, Dra Ju, Dra Vania e Ana Amorim. Meu eterno obrigada!

*LEGENDA de horários aproximados:
12:00 - comecei a contar as contrações
14:00 - a doula chegou
17:30 - a parteira Letícia chegou 
21:00 - a parteira Ana Cris chegou
00:00 - senti a primeira vontade de fazer força
2:00 - Ana Cris sugeriu irmos para o hospital para romper a bolsa
3:30 - cheguei no hospital e fui examinada pela médica na sala de parto
4:50 - David nasceu!

No total foram 17h de TP calculadas a partir do momento em que comecei a contar as contrações.

Palavra final: Já ouvi falar de muitos partos mais demorados do que o meu e às vezes me pego pensando que fui fraca, que deveria ter insistido em ficar em casa, que deveria ter aguentado mais. Mas também ouço muito nas conversas sobre parto humanizado que o parto ideal não existe. Existe o parto possível.  E este foi o MEU parto, o que eu consegui dar conta e foi o melhor que poderia ser!

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Por que nossa família ama fazer HOMESCHOOLING?

Faz pouco mais de 2,5 anos que eu iniciei a minha jornada de aprendizado sobre homeschooling e quase dois que eu comecei a intencionalmente praticá-lo com as minhas filhas. A caçula tinha acabado de completar 1 ano quando eu pedi demissão da empresa, em julho de 2012, e seis meses depois, ao fim do ano letivo, depois de orar a respeito e conversar com o marido, decidimos tirar a mais velha (na época com quase 3 anos e meio) da escola que ela frequentava em regime de meio-período para experimentar a educação domiciliar.

O que a princípio seria uma experiência de um ano já viraram dois e nós seguimos animados diante das possibilidades que o homeschooling nos traz como família. No post de hoje elegi o que, para nós, representam os 5 pontos mais altos dessa prática na intenção de inspirar mamães, papais e educadores curiosos que estão pesquisando sobre o assunto!

1. POR UMA MAIOR FLEXIBILIDADE NA ROTINA
Nesses dois anos de prática e aprendizado, devido às circunstâncias em que nos encontrávamos, meu marido e eu dividimos a responsabilidade, alternando quem ficava incumbido de conduzir as atividades de ensino em casa. E este é justamente um dos grandes benefícios inerentes à prática da educação domiciliar: a possibilidade de flexibilidade na rotina familiar. Não estamos presos a um calendário escolar, tampouco a uma localização geográfica. As nossas férias não precisam ser na época mais cara do ano para se viajar. O homeschooling nos traz a possibilidade de viver com mais liberdade, de aproveitar oportunidades e de efetivamente perseguir os nossos sonhos.

Vejam como foi o nosso caso nesse período de dois anos:
Nos primeiros 8 meses, eu ficava em casa o dia todo com as meninas e ia para a faculdade à noite enquanto meu marido trabalhava fora. Nos 5 meses seguintes, nos mudamos para o Canadá e, como eu precisava estudar em período integral, ele ficou em casa ensinando as meninas. Durante os 3 meses seguintes tivemos uma fase um pouco diferente já que elas frequentaram uma creche de Montreal em meio-período; o motivo é que meu marido havia conseguido um emprego e as minhas aulas na universidade ainda não tinham acabado. Em seguida, passamos os últimos 3 meses lá curtindo o verão canadense - eu em casa com as meninas enquanto meu marido estava trabalhando fora. Extremamente feliz porque era o que eu queria fazer, pude novamente me dedicar a ensiná-las - nessa época, inclusive, aproveitei para comprar o kit de Pre-Kindergarten do Sonlight.

Quando voltamos para o Brasil, há exatos três meses, retomei meus estudos e estágios para terminar a licenciatura em Pedagogia e, por isso, meu marido novamente assumiu as funções de homeschool. No momento finalizei meu estágio (pelo menos o deste semestre, no próximo tem mais!) e estou em casa boa parte do tempo, indo para as aulas somente 1x por semana. Assim, pretendo aproveitar para colocar em dia algumas leituras e atividades com as meninas, me envolver mais com a comunidade de homeschoolers da minha região e, quem sabe também, eu consiga escrever mais no blog!

2. POR UM ESTILO DE VIDA MENOS COMPLICADO
Para nós fazer homeschooling é mais do que praticar uma modalidade alternativa de ensino que opta pelo lar em vez da escola. Vemos-a também como a opção por um estilo de vida mais simples, um jeito diferente de encarar a vida e de ser feliz com menos, sem os excessos que nos dão uma falsa sensação de preenchimento. E isso porque um dos benefícios que essa opção nos traz é que ela expõe menos a nossa família (principalmente as crianças) a pressões externas de como se vestir, o que comprar, que lugares frequentar, o que assistir... enfim, a padrões pré-estabelecidos de consumo, das últimas tendências da moda, do mundo do entretenimento, etc. Claro que essa pressão ainda existe em outros círculos de amizades, mas tende a ser menor se a frequência de contato não for diária. Se, por um lado, fazer homeschooling para muitas famílias exige um padrão de vida mais humilde porque a renda familiar cai (já que um dos cônjuges precisa parar de trabalhar ou diminuir consideravelmente sua carga horária de trabalho), há de se pensar que, por outro também, economiza-se nas altas mensalidades e outros custos com taxas escolares, materiais, uniformes e alimentação fora de casa. :)

Além disso, a educação domiciliar também propicia um estilo de vida que nos impulsiona para fora da caixa e dos limites que muitas vezes poluem nossa imaginação e cegam nossa perspectiva para o futuro, um estilo de vida que prioriza um viver mais fluido, menos rígido e compartimentalizado por compromissos diários que sobrecarregam a nossa alma e nos fazem desejar ardentemente que o final de semana (ou do ano!) chegue logo. Para a nossa família hoje não existe essencialmente nada que diferencie uma quarta-feira de um sábado, ou um mês de outro. Os ciclos e dias nunca são iguais. Por mais que tenhamos um currículo como referencial e uma estrutura idealizada que gostaríamos de cumprir, não estamos numa corrida de ratos que nos obriga a acordar todo dia no mesmo horário, sair de casa às pressas (muitas vezes enfrentando um trânsito lascado!) para nos conformar a uma agenda fixa, que serve ao coletivo maior. Aqui em casa nós fazemos a nossa agenda, nós delimitamos as nossas prioridades e nós escolhemos o que queremos estudar a cada dia, mês e ano. Não somos reféns do "não tenho tempo" porque em casa temos todo o tempo que quisermos para usar como quisermos. E nós procuramos usá-lo com sabedoria. Se porventura as crianças tiverem alguma idéia brilhante de passeio, experimento ou atividade, ou mesmo certa curiosidade em pesquisarem sobre algo que surgiu do nada, podemos "parar tudo" e dar atenção àquilo, sem crise. Mudanças são permitidas e não acarretam grandes prejuízos como, por exemplo, se um sábado e domingo tiverem sido particularmente puxados, podemos tirar a segunda-feira para descansar e ter um dia menos acelerado. Passeios ao museu, casa da vovó, biblioteca ou praças não precisam ser planejados com muita antecedência. Podem até ser de um dia para o outro!


3. POR UM RELACIONAMENTO FAMILIAR MAIS SADIO
Estou convencida de que eu e meu marido somos as pessoas com quem nossos filhos mais precisam ter contato durante a infância. O convívio dos avós é importante e ter boas amizades também, mas eu acredito que nenhum deles deveria tomar o lugar dos pais na vida de uma criança. Também acho saudável que irmãos amem estar juntos, se ajudem, se defendam e valorizem a companhia um do outro mais do que a de amigos da mesma idade. Com a compartimentalização escolar da vida moderna fica cada vez mais desafiador os pais serem a primeira influência na vida dos filhos e os irmãos, que passam tantas horas do dia em salas diferentes, terem afinidade afetiva e apreço uns pelos outros. Sei que algumas brigas e desentendimentos fazem parte de todo relacionamento (aqui eles também acontecem!), mas acredito que devam ser exceção, não ocorrências constantes.

Para nós um dos benefícios de homeschool é que ele tem nos permitido construir memórias maravilhosas em família. Passamos muitas horas do nosso dia juntos e para mim como mãe é um privilégio imensurável estar disponível para ouvir minha filha quando uma dúvida ou pensamento sobre a vida passa pela sua cabecinha no meio do dia - às vezes durante uma refeição, quando estamos juntas arrumando a cama, guardando brinquedos, recolhendo roupa do varal, ou indo ao banheiro fazer xixi. Uma dúvida talvez que, se ela tivesse na escola, ela não dirigiria a mim, ou mesmo se lembrasse de me contar depois! Esses momentos preciosos ficarão para sempre guardados na minha lembrança, e sei que terão um impacto importante na vida dela também.

Outro aspecto é que diante do tamanho das mudanças pelas quais passamos nos últimos dois anos, o impacto de mudar de país não foi traumático para elas. E eu atribuo isso justamente ao fato de a base de segurança emocional delas ser o LAR, os relacionamentos dentro da família, que não mudaram daqui pra lá e nem de lá pra cá. Por isso, tanto faz se é Brasil ou Canadá, elas estão bem.

4. PELO ENTUSIASMO EM EXPLORAR E CONHECER O MUNDO
Eu acredito que toda criança nasce curiosa e desejosa de aprender, explorar e conhecer o mundo. O problema é que muitas vezes o sistema escolar mata esse desejo! Eu tenho plena consciência de que o mesmo pode acontecer em casa, com uma família que pratica a educação domiciliar, porque não é uma questão de local, mas de imposições e rigidez de expectativas sobre o aprendizado. Nesse sentido, eu sou fã do unschooling, da ideia de um ensino mais livre e que busca explorar a curiosidade natural da criança, que ouve suas perguntas, procura em conjunto respostas para elas e segue um ritmo que respeite sua personalidade. Por essa forma de enxergar, unschooling não tem nada a ver com deixar as crianças completamente soltas e esperar que elas determinem o currículo de estudos. Não é o caso. Meu papel é de instigar sua imaginação por meio de bons livros e de uma rica oralidade: contação de histórias, brincadeiras de advinhas, rimas, encenação, jogos e outras atividades educativas que sejam divertidas. Crianças amam uma boa história e minha casa está cheia de livros! Nós lemos em voz alta para as meninas todos os dias. Pelo menos nesta fase pré-escolar, eu tenho muita preocupação em não pecar pelo excesso, de forçar conteúdos escolares de uma forma maçante. Não tenho, por exemplo, pressa de que elas aprendam a ler. Eu alfabetizo de forma lúdica, mas não forço. Deixo sempre com gostinho de "quero mais" para que elas peçam para a gente fazer mais lição. Não quero privar minhas filhas de ter tempo para brincar e de inventar mil coisas!

E, por falar, em inventar... isso elas fazem de montão e, o melhor, espontaneamente... como deveria ser. Esse final de semana mesmo, voltamos de um casamento com duas pulseiras de neon (daquelas que brilham no escuro para usar em pista de dança) e que fizeram a minha filha de 5 anos pensar em uma armação de óculos. Ela perguntou ao pai como é que poderia fazer um par de óculos de brinquedo e o pai incentivou-a a encontrar uma solução sozinha. Foi um verdadeiro e autêntico projeto de ciências que ela desenvolveu num domingo ensolarado após voltarmos da igreja enquanto eu esfregava roupa no tanque e meu marido preparava o almoço.

Está aqui o resultado: Ela usou três chuquinhas de cabelo e uma tiara para executar sua invenção!



5. PELA LIBERDADE DE EXPERIMENTAR E SE DESENVOLVER EM ARTES VARIADAS
Outro benefício maravilhoso do homeschooling é a possibilidade de experimentar de tudo um pouco. Quando estávamos no Canadá, as meninas fizeram, em momentos diferentes ao longo do ano, aulas de cerâmica, aulas de balé, aulas de artes, aulas de dança, aulas de natação e aulas de piano. Agora, aqui no Brasil, elas estão fazendo ginástica olímpica e eu estou cogitando aulas de pintura em tela (se não derem certo as aulas, eu pretendo comprar o material pra fazer em casa). A Nicole também já me pediu para continuar aprendendo piano. Não pretendo ficar escrava de um número excessivo de aulas durante a semana, mas a idéia é aos poucos irmos descobrindo suas aptidões e talentos - algo que, se estivéssemos presos a uma agenda escolar, sem dúvidas seria muito mais difícil, principalmente numa cidade grande e agitada como a que vivemos em que conciliar horários é sempre um desafio.

Por fim, esses são os cinco principais motivos que nos fazem amar o homeschooling. Há outros que eu não citei aqui, esses são os mais importantes. Para muitos a educação domiciliar ainda é uma prática desconhecida e bastante estranha, mas para nós que estamos experimentando-a há algum tempo é algo que cada vez nos fascina mais! Sei que existem escolas excelentes (embora é evidente que não sejam a maioria e que custem muito dinheiro) e propiciam resultados ótimos também. Eu mesmo estudei numa escola assim, fui privilegiada!! Meu sonho sempre foi colocar meus filhos um dia para estudarem lá, mas parece que os planos do Senhor para nós eram outros.

Como sempre, os planos dEle são superiores aos nossos, como está escrito em 1 Coríntios 2:9 (o versículo que colocamos no nosso convite de casamento quase 12 anos atrás) que diz:
"Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem penetrou em coração humano o que Deus preparou para aqueles que O amam".

segunda-feira, 9 de junho de 2014

A nossa vida no Québec - Os últimos 8 meses (Parte 2)

Os pontos abaixo são um resumo das minhas impressões sobre a vida no Québec até o momento. Vou dar mais detalhes sobre como eram as creches com as quais eu tive contato, descrever como foi o nosso 1o inverno aqui, falar sobre outras diferenças culturais / estruturais que tenho percebido, dentre outros.

Confira a parte 1 aqui.

Bilinguismo e Multiculturalismo
Em outros posts, já falei sobre como fizemos para garantir que, desde o Brasil, as meninas fossem expostas aos dois idiomas (inglês e português) para que pudessem ficar fluentes em ambos. Como a habilidade de se expressar num idioma está fortemente vinculada ao emocional e ao relacionamento que temos com as pessoas, viemos para o Canadá e, sem pensar muito sobre o assunto, continuamos o hábito de falar somente em inglês em casa com elas (apesar de sempre falarmos em português um com o outro). No fim do nosso terceiro mês aqui, mais ou menos, comecei a perceber e a me incomodar com o fato de que a Nicole resistia em falar português com os avós nas conversas pelo Skype. Ou seja, apenas ouvir o pai e a mãe conversarem em português um com o outro em casa não estava sendo suficiente para garantir a fluência dela. No Brasil dava certo porque praticamente toda a comunicação fora de casa (exceto igreja) era em português também. Óbvio, né?! Pois é, mas nós não nos atentamos para isso e não planejamos como seria a questão dos idiomas neste um ano fora.

Percebido o "problema", eu me esforcei para falar em português em casa com as duas (principalmente com a Nicole). Também comecei a colocar vídeos no Youtube para elas verem de vez em quando (basicamente Crianças Diante do Trono e Galinha Pintadinha) na intenção de que elas começassem a cantar as musiquinhas em português. É claro que elas entendiam tudo em português, mas na parte da comunicação, a Nicole resistiu durante algum tempo (acho que 2 ou 3 semanas) para me responder em português já que o inglês havia se tornado tão predominante na vida dela. Até a pronúncia dela no começo ficou engraçadinha e algumas conjugações saiam totalmente erradas mas, como disse, conseguimos reverter a situação em pouco tempo. Acho que a Nicole, de certa forma, sempre teve facilidade com idiomas e comunicação. Hoje ela fala novamente os dois idiomas sem dificuldade (claro que ela inventa palavras vez ou outra, mas quem nunca?! Eu também faço!) e, com a irmã, percebo que o idioma de preferência continua sendo o inglês, o que para mim não é problema algum.

Mas e a Alícia?! Bem, a Alícia está há um mês de completar 3 anos e, não sei se já comentei antes, mas fonética e comunicação nunca foram o forte dela. Para "ajudar", como ela é a segunda filha, eu sou muito menos disciplinada para falar um idioma só com ela e não me policio tanto para corrigi-la quando ela fala algo errado ou mistura os dois na mesma frase. Com a Nicole nesta idade, eu exigia que ela repetisse a frase toda de novo na forma certa antes de atender ao seu pedido. Apesar disso, eu percebo que a Alícia tem preferência por falar inglês (acho que porque estamos aqui), mas é muito comum ainda ela começar com "Eu" e falar todo o resto em inglês. Resultado: nem sempre as pessoas a entendem. Mas ela ainda é nova e eu já passei da fase de me preocupar. No começo eu mentalmente a comparava com a irmã e o que ela já sabia falar com x idade, e me "estressava"... até pensei em levá-la numa fono (quando estávamos no Brasil ainda) pra ver se ela tinha algum problema de dicção. Mas agora que vejo o quanto ela já progrediu e o quanto ainda está progredindo, fico em paz e sei que ela vai desabrochar no tempo dela! Tem uma historinha no material de homeschool das meninas - chamada Leo, The Late Bloomer (clique no link para ver crianças lendo a história) - que fala justamente disso. De tanto ler e ler a história para elas, acho que acabei internalizando a mensagem. :-)

Na Parte 1 deste post, eu mencionei que as meninas frequentaram uma creche francófona aqui no Québec. Elas não ficaram fluentes em francês porque foram apenas 3 meses em meio-período (e elas nunca iam todos os dias da semana), mas foi interessante vê-las incorporando o francês em algumas brincadeiras e atividades da casa. Até hoje, por exemplo, quando terminam de usar o banheiro, é comum elas nos avisarem dizendo J'ai fini (=terminei). Eu também já peguei a Nicole brincando de telefone em inglês e francês - ela perguntava algo em francês e fingia que a pessoa do outro lado não entendia, para então traduzir para o inglês. Apesar disso, nenhum de nós aqui precisa falar francês no dia-a-dia!! Praticamente nada. Meu marido é do tipo cara-de-pau e gosta de se arriscar pra aprender (certo ele, né?!), mas como Montreal é uma cidade bem bilíngue, eu raramente me aventuro a responder em francês para as pessoas na rua (medo de errar e também porque não sei mesmo). Os atendentes no comércio dizem "Bonjour" e "Hi" e é a resposta do cliente que determina em que idioma será o atendimento - então eu geralmente digo "Hi", rsrs.

É por este motivo que, apesar de estarmos numa província francófona e as placas, propagandas, embalagens dos produtos, cardápios e afins serem em francês, isto não é suficiente para deixar ninguém fluente (muito menos criança que ainda nem sabe ler!), ainda mais porque nós frequentamos uma igreja anglófona e temos muitos amigos que falam inglês (ou português). A única exceção, eu diria, é uma amiguinha das meninas, nossa vizinha, que também se chama Nicole. A família é da Ucrânia e imigrou para o Canadá havia um ano quando os conhecemos no parque (isso quando havíamos acabado de chegar também). Nem ela nem os pais falam inglês muito bem, mas como na época eu não sabia absolutamente nada de francês, eles foram super simpáticos e se esforçaram muito para se comunicar comigo em inglês. Imagine a cena bizarra: a cada duas palavras eles procurando alguma palavra em inglês no google, hehe.

O multiculturalismo e multilinguismo daqui de Montreal são gritantes. São tantas nacionalidades diferentes que fico boba! Vir pra cá mudou completamente a minha visão sobre o ser humano, abriu a minha mente. E a maioria das pessoas fala, no mínimo, 2 a 3 idiomas fluentemente. Tem noção?! Uma amiga brasileira que mora aqui há 12 anos, por exemplo, é casada com um egípcio. O casal conversa em inglês um com o outro, mas com o filho ela fala português e e ele árabe. O menino vai para uma garderie bilíngue onde está aprendendo a se comunicar em inglês e francês. Outro vizinho é canadense-francês (o típico gringo que imaginamos quando pensamos na América do Norte, que é uma raridade encontrar aqui, haha) e fala em inglês com a filha, mas a mãe da criança é espanhola (eles não moram juntos) e, pra completar, ela frequenta garderie francófona. Ou seja, mais um exemplo de criança sendo exposta a pelo menos 3 idiomas ao mesmo tempo. E por aí vai... as famílias aqui são um emaranhado de povos e línguas - é interessante pensar no que isso vai dar! E pensar que no Brasil tem especialista que teima que não é bom para a criança aprender inglês (uma 2a língua) muito nova... pura baboseira!

Outra curiosidade é que, diferente do que percebo entre nós, brasileiros que também somos uma mistura de muitas culturas, as pessoas daqui parecem se importar muito mais com as suas raízes. Pode ser que seja algo recente, não sei, mas é nítido que elas fazem questão de manter vivos não só a língua materna como também costumes do seu país de origem. Ao meu ver, isso não aconteceu quando o Brasil foi populado por imigrantes. Por exemplo, eu sou descendente de italianos e meus avós, que nasceram no Brasil (ambos filhos de italianos/franceses), sequer aprenderam a falar o idioma dos pais de origem. Tanto que eu sei muito pouco ou nada sobre o que é ser italiana, e me considero 100% brasileira. Mas aqui não, as pessoas aprendem o idioma local (no caso, o francês, que é uma obrigatoriedade para poder imigrar, só não sei se também no caso de refugiados), mas em casa continuam falando o idioma materno, e o ensinam a seus filhos. Na rua, nos ônibus, em restaurantes é muito comum ouvir uma mistura louca de idiomas. A cultura árabe/muçulmana é facilmente identificada por aquele pano que as mulheres colocam sobre a cabeça (desculpem-me a ignorância, mas não lembro o nome!), e isso mesmo na 2a geração de imigrantes (aquelas que nasceram e viveram aqui a vida toda e ainda assim se esforçam para manter suas tradições familiares do país de origem). Isto também se reflete nos tipos de restaurantes que você encontra pela cidade, tem para todos os gostos - comida indiana, árabe, tailandesa, chinesa, japonesa, libanesa, etc. - a variedade é imensa. E por isso quando chegamos foi tão difícil descobrir quais eram os costumes ou comidas quebequenses (ou canadenses).

Por falar em cultura canadense, em três ocasiões diferentes tivemos o privilégio de ser convidados para comer na casa de famílias canadenses (que moraram aqui a vida toda). E em todas elas eu reparei que o educado é o anfitrião servir cada convidado ao redor da mesa para só então todos comerem juntos (até as crianças esperam). Ele(a) pergunta o que você quer comer e faz o seu prato. Diferente, né?! Achei formal demais e me senti constrangida de ter de retribuir um jantar assim para esses amigos, rs. Se o fizesse, com certeza faria à moda brasileira mesmo: coloca-se toda a comida na mesa e cada um se serve com o que quer, bem à vontade!! Sei lá, acho estranho eu colocar comida no prato para outras pessoas que mal conheço - não parece que eu estou "decidindo" o quanto ela tem de comer?! Sem contar que culturalmente para nós brasileiros o bom quando se come na casa de alguém é "limpar o prato" para não fazer desfeita, né! E também pra não desperdiçar comida. Mas aqui acho que não tem isso não.

Para fechar este ponto, quero dizer que sinto de não falarmos francês com fluência ainda! Queria dar essa oportunidade para as meninas (de serem poliglotas desde pequenas), mas ao mesmo tempo sinto que poder homeschool é uma bênção e privilégio ainda maiores do que elas falarem 3 línguas perfeitamente. Ainda assim, faço o que dá para expô-las ao idioma: de vez em quando vamos à biblioteca pegar livrinhos em francês (para eu ler pra elas, yikes!), uma vez por semana coloco filminhos para elas assistirem em francês (Calliou, Peppa Pig, Mickey Mouse ou às vezes outros educativos que encontro no Youtube), a Nicole faz aula de piano com uma professora francófona (que fala pouco inglês) e na aula de balé e outras atividades no centro comunitário, a professora/educadora dá as explicações nos dois idiomas (em francês, depois em inglês). Também entrei em contato com uma família francófona (mãe canadense, pai francês) que homeschool os três filhos (de 3, 5 e 7 anos) e que acabou de se mudar para a ilha. Uma vez por semana a gente tenta se encontrar no parque para as crianças interagirem (os filhos só sabem francês) e, quem sabe, se soltarem mais no francês. São estratégias, vamos ver no que vai dar.

As creches
Em São Paulo eu já tinha reparado que a classe média foge do termo "creche" para se referir ao lugar onde coloca o filho para passar o dia e prefere dizer que ele frequenta uma "escolinha". Pedagogos fazem o mesmo - na intenção de enobrecer o termo e fugir de uma associação com assistência social, eles a denominam como "educação infantil". Não sei como é esta questão de nomenclatura no resto do mundo, mas no Canadá o termo é daycare ou, em francês no Québec, garderie, e remete justamente a um lugar de cuidado, um local onde as crianças pequenas passam o dia recebendo cuidados para que os pais possam trabalhar ou estudar. Como as CPEs (creches do governo) são bem conceituadas e bastante concorridas (principalmente por causa do preço!), as garderies privadas costumam fazer propaganda de que oferecem "programa educativo" para atrair a clientela. Existem também as creches residenciais, o que eles chamam de garde en milieu familial, para quem prefere um tipo de atendimento alternativo (não seria o meu caso, presenciei cenas de crianças de garde em milieu familial no parque com a cuidadora que me deixaram com uma péssima impressão).

O bairro onde eu moro é bem privilegiado (economicamente falando) e diferente da cidade de Montreal em si (pelo menos a parte que pude conhecer até o momento). Aqui há casas lindas, verdadeiras mansões e, no centro comunitário que frequentamos, é comum as crianças irem acompanhadas pelas babás ou pelas próprias mães. As vizinhas que moram no mesmo tipo de apartamento que o meu (os mais pobres do bairro!!) não têm o mesmo privilégio porque elas precisam trabalhar fora e colocam a criança em creche. Mesmo entre as mães com uma condição social melhor (as que podem ficar com os filhos em casa durante a 1a infância), me surpreendi com a pouca confiança que elas têm na própria capacidade. Talvez seja uma particularidade do Québec, pois vim pensando que encontraria mulheres mais confiantes e autônomas no que se refere ao cuidado e instrução dos filhos. Não esperava que fossem se surpreender ao ouvir que eu pretendo homeschool. Como no Brasil, algumas sequer haviam ouvido falar sobre a prática e acabam sendo dependentes do serviços de terceiros (creche, atividades no centro comunitário, ou outros). Não analisei o suficiente para concluir se elas também são imigrantes recentes, mas é uma hipótese! No geral, a sensação que eu tive é que o pensamento coletivo aqui é bem próximo ao que encontramos no Brasil: existem poucos homeschoolers e uma grande ansiedade por parte das mães (e pais) de colocarem logo seus filhos em daycare educativa, para que eles ganhem independência e estejam "melhor preparados" social e intelectualmente para entrarem na escola aos 5 ou 6 anos. Apesar disso, existem sim pequenas comunidades de homeschoolers (como esta), com estrutura, recursos e até mapa virtual para ajudar os praticantes e aspirantes a achar uns aos outros. Foi assim que conheci essa minha vizinha que ensina os filhos em casa. Acho que no Brasil ainda não existem iniciativas com essa.

Mas voltando ao tema, a principal diferença que eu senti na creche daqui é a liberdade que os pais têm de ir e vir dentro da instituição e saber tudo o que está acontecendo com a criança. Achei fenomenal, principalmente por causa da experiência ruim que tive na "escolinha" bilíngue em que a Nicole estudou em São Paulo. Lá a comunicação via agenda era desastrosa e os pais sequer eram autorizados para entrar com a criança ou ficar lá dentro com ela, por alguns minutinhos que fosse (só era permitido no período de adaptação e olhe lá). Nós tínhamos de entregá-la e buscá-la na porta e confiar cegamente. Inclusive, já recebi bronca desaforada por telefone da própria dona depois de enviar um bilhete na agenda pedindo para acompanhar um dia de aula com a minha filha - ela perguntou: "Você gostaria que outros pais assistissem aula com sua filha?", como se fosse uma aberração crianças terem contato com outros adultos!

Aqui é totalmente diferente: nas duas instituições em que a Nicole frequentou tanto eu quanto o meu marido tínhamos a nossa própria chave de acesso ao local e podíamos entrar e sair quando quiséssemos. E também podíamos falar livremente com as educadoras lá dentro (nenhuma coordenadora ficava barrando o acesso dos pais a elas, como também é costume no Brasil, principalmente em escolas particulares). Aliás, na minha experiência aqui não teve esse esquema de agenda individual dizendo se a criança se alimentou, dormiu, quantas vezes foi ao banheiro, etc. Quando você busca a criança a educadora já está ali ao vivo e a cores e conta o que aconteceu (ou então você mesmo pergunta). Assim é muito mais prático. A primeira creche ficava aberta o dia todo (das 7:00 às 18:00) e os pais é quem decidiam o horário de deixar e buscar a criança (respeitando o número máximo de horas que a legislação canadense permite que criança fique em creche, sob pena de pagamento de multa caso ultrapasse o tempo). Na segunda creche, como não era em tempo integral mas em dois turnos (manhã e tarde), a nossa chave de acesso para o turno da tarde funcionava a partir das 13:00 em ponto (nem um minuto antes!) e nós, obrigatoriamente, tínhamos de buscar as meninas antes das 17:00 já que este era o horário de fechamento (quem se atrasasse pagava multa também!). O interessante é que, além de não gastarem dinheiro com funcionário para receber as crianças na entrada (mão-de-obra aqui é cara), a creche ainda obriga os pais a se envolverem e a vivenciarem a área em comum da creche já que ela é, digamos assim, a 2a casa das crianças. O pai (ou mãe) põe a mão na massa: entra com o filho, guarda seus pertences no armário/cabides (no inverno, tem todo o trabalho de tirar botas de neve, o macacão, a jaqueta, luvas e gorro), o leva para fazer xixi e lavar as mãos (nesta já cumprimenta as educadoras) para só então se despedir da criança e ir embora. O mesmo na hora de buscar.

Notei outras diferenças também. Na primeira creche, além de uma troca de roupas que a coordenadora havia pedido, eu enviei uma bolsinha com toalha, pasta e escova de dentes - afinal, minha filha iria passar o dia lá, almoçar, etc. Mas eles não levam as crianças para escovar os dentes durante o dia! Culturalmente para eles simplesmente não faz parte das atividades de creche ensinar o hábito da higiene bucal após as refeições como fazemos no Brasil. Já lavar as mãos é algo que eles fazem o tempo todo. Ao entrar, mesmo que a criança não precise usar o banheiro, ela obrigatoriamente tem de lavar as mãos antes de pegar algum brinquedo. Bem, demoramos uns três dias para perceber que ela não estava usando a escova e, quando meu marido perguntou porque a Nicole não estava escovando os dentes, a educadora fez uma cara de espanto e disse que poderíamos levar a escova de volta pra casa. :-)

Outra curiosidade é a neura que eles têm com alergias alimentares. Nas duas creches foi muito reforçado que era proibido entrar com qualquer tipo de alimento industrializado - ao ponto de na hora do lanche oferecerem leite em vez de suco por causa dos corantes artificiais! Imagino que essa regra e preocupação tenham razão de ser. Num lugar com pessoas de origem tão distintas, é melhor se precaver mesmo.

O inverno
Gente, o inverno aqui é punk! Muito longo e muito frio. Acho que nada poderia me preparar para o frio que pegamos aqui neste inverno. Disseram que há muitos anos o inverno não era tão rigoroso assim, mas sei não se eu acredito, rs. E essa história de que abaixo dos -15 graus é tudo a mesma coisa pra mim é papo furado. Abaixo de -15 é frio pra caramba e, acreditem, pode piorar muito. É um frio tão agressivo que deixa a pele ressecada (ela fica vermelha, como se estivesse queimada) e faz congelar até os pelos do nariz (eles ficam duros e depois o gelo derrete e começa a escorrer). Ou seja, tem de cobrir quase todo o rosto pra não se machucar! Eu que nunca fui de usar creme nas mãos porque não gosto da sensação delas melecadas, precisei usá-lo várias vezes ao dia para não ficar com as mãos descascando e feridas. O ar dentro de casa era tão seco que ao acordar meu nariz chegava a sangrar - com catota dura! Aliás, o ar seco secava tudo rapidamente (roupas, toalhas e até sapatos dentro de casa), o que não acontecia em nossa casa no Brasil. A pior coisa da época de inverno no Brasil é que as toalhas de banho não secam nunca e as roupas emboloram dentro dos armários por causa da umidade. Aqui o perigo é outro: por causa dessa secura toda, há muito risco de incêndios (acontece com certa frequência, um prédio do nosso bairro pegou fogo!) e, com isso, torna-se prudente ter seguro de residência.

A primeira neve caiu no início de dezembro. Me lembro bem porque foi no meu último dia de aula e eu voltei pra casa de ônibus aquela noite toda feliz sentindo e vendo os flocos de neve caírem. Uau, tudo ficou branquinho, exatamente como nos filmes. Quanta alegria! Queríamos muito aproveitar tudo o que podíamos do inverno, mas ele é tão absurdamente longo que chegou um ponto em que eu não aguentava mais ver tanto branco. Não tinha mais onde colocar tanta neve que se acumulava nas calçadas! Era meados de abril, supostamente em plena primavera, e a paisagem continuava branca! Apesar de tudo, preciso afirmar: aqui ninguém passa frio não. A cidade é toda preparada para esta época do ano, os prédios sempre bem aquecidos, as estações de metrô fervendo de calor, e até dentro do ônibus é quentinho. No centro, são tantas passagens subterrâneas ligando um prédio ao outro que você nem precisa enfrentar as baixas temperaturas lá fora. Em nosso apartamento, por exemplo, nós regulávamos a temperatura e, como o aquecimento está incluso no aluguel, nem de cobertor precisávamos à noite. Ou seja, inverno aqui NÃO é sinônimo de sofrer pra tomar banho ou mesmo de dormir com duas calças, duas blusas, meias, cobertor e ainda um edredom por cima!

Vista da janela do nosso apartamento no inverno.

Talvez a nossa família sentiu ainda mais o impacto do inverno porque estávamos a pé. Quisemos bancar os corajosos e resistimos em comprar um automóvel já que o transporte público daqui é bom e não queríamos ficar procurando vaga na rua ou gastando com estacionamento toda vez que saíssemos de casa. No começo foi "só alegria", mesmo com todo o perrengue que era caminhar até o mercado e carregar sacolas no braço ao voltar, ou então ir de ônibus e metrô para a igreja ou outros lugares com as crianças no colo. Como elas ficavam pesadas com toda aquela parafernália de inverno! Além do peso, as botas sujavam os nossos casacos (porque neve bonita é aquela que acabou de cair, depois ela fica "barrenta"). A alternativa então era carregar as meninas nos ombros, mas mesmo assim sair de casa exigia um tremendo esforço físico (de mim, principalmente). Eu já estava pedindo arrego e me arrependendo amargamente de não termos comprado um carro. Até que em meados de fevereiro demos o braço a torcer e compramos um carro bem velhinho. Óooo, que alegria foi novamente, rsrs. :-)

Hoje, depois de um inverno que pareceu não ter fim e de uma primavera que começou a dar o ar da graça um mês após a data oficial no calendário, os dias estão finalmente esquentando e ficando do jeito que eu gosto!! Com uma ressalva: está escurecendo tarde da noite e é complicado colocar as meninas pra dormir às 19:30 ou 20:00 quando o sol ainda está brilhando lá fora (no inverno era o contrário, escurecia cedo pra caramba, entre 16:00 e 16:30!). Dizem que no verão o calor daqui é insuportável também - por que será que aqui as temperaturas oscilam tanto, frequentemente nos extremos do termômetro? - mas depois ter de usar, por 8-9 meses, calça e manga longa toda vez que ia pra rua, ainda estou no estágio do "ver para crer", haha. Se for tudo isso de ruim que estão dizendo, eu acho que não vou ligar tanto... afinal, tenho certeza de que vai durar muito pouco (uns 2 meses?) e, pra mim, poder usar chinelo, shorts e regata vai ser uma alegria sem tamanho!!

O lugar onde moramos é um paraíso!
Não me canso de admirar tamanha beleza da natureza.

Vida em apartamento
Aproveitando o assunto da secura do inverno, eu ficava boba com a quantidade de pó visível que se formava dentro de casa nas superfícies, mesmo com tudo fechado (e muito bem selado para manter a casa termicamente isolada). Eu não dava conta de limpar! Talvez por causa do aquecimento? Não sei, mas o fato é que, diferente do que estamos acostumados no Brasil, limpeza se resume a passar um pano úmido. Não existe "lavar o banheiro" ou "lavar a cozinha" porque não pode jogar água no chão! As casas são feitas de madeira e não têm ralo no chão. Isso foi algo que eu estranhei bastante porque passar pano não tem o mesmo efeito, na minha opinião! Aliás, eles vendem os "panos prontos" (cleaning wipes, como os lenços umedecidos para bebês) para você não precisar de pano de chão já que pano é pano e pode pegar fogo no inverno. E eu reparei que até pano de prato aqui é diferente: ele não é de algodão, mas de algum tecido que não absorve direito a água, provavelmente é anti-inflamável. Como a cultura aqui é ter lava-louças quase como um item obrigatório (a lógica do Brasil é oposta: mão-de-obra barata e eletrodomésticos caros), pano de prato que não seca louça não é um problema para eles.

Se morar em apartamento já é restritivo para quem tem criança pequena, morar num apartamento com paredes ocas é pior ainda, hehe. Pois é, eu achei muito chato ficar o tempo todo pedindo para minhas filhas pararem de pular, correr, etc. para não incomodar os vizinhos debaixo. E não é nem porque eles reclamavam (meus vizinhos são muito tranquilos), mas é porque eles têm bebê de colo e seria muito chato acordá-lo de uma soneca, por exemplo. Também não gostei de morar em apartamento com paredes ocas por causa da falta de privacidade. Numa noite em que a Alícia teve febre e acordou aos berros perto da meia-noite (eu já falei que ela é escandalosa?), logo quando chegamos, eu a peguei no colo e fomos para o banheiro porque eu não queria acordar o resto da casa. O problema é que a planta do nosso apartamento é estranha e o único banheiro fica bem do lado da porta de entrada. Acredita que uma vizinha do apartamento que fica do outro lado do corredor (não direitamente em frente à minha porta) veio bater em casa pra perguntar se estava tudo bem? Eu imagino que ela teve toda boa intenção do mundo (afinal, ela tem um filho da mesma idade que a minha caçula), mas eu achei muito chato. Me senti invadida, sabe? Não estou acostumada com falta de liberdade dentro da minha própria casa. Sei lá... em pensar que o que eu falo, alguém na casa do lado pode estar ouvindo.

Outro medo é a sacada... estamos no 2o andar e não deixo as meninas brincarem na pequena área porque elas podem inventar de subir na grade, passar pelo meio... enfim, melhor prevenir acidentes. Por esses motivos, no fim de junho vamos nos mudar para um apartamento no térreo. Continuaremos no mesmo bairro e no mesmo tipo de prédio, mas na rua de trás de onde moramos agora. Eu vou sentir falta da imensa árvore que fica bem em frente da nossa janela, de onde posso ver esquilos subindo pelo tronco e ver/ouvir os passarinhos cantando. Mas espero que os prós de ir para o térreo compensem os contras, a começar pelo tipo de planta do apartamento que é mais parecida com os modelos que encontramos no Brasil e também pela possibilidade de termos um espaço útil maior do lado de fora (de frente com a janela), onde esperamos fazer um jardinzinho.

Desfraldamento
Apenas para não passar batido, vou resumir rapidamente como foi o processo de desfraldamento com a Alícia: um pesadelo!! Hahaha, é rir pra não chorar porque, olha, foi dureza! Eram tantas calças e calcinhas sujas e molhadas que nós não dávamos conta de lavar!! A banheira vivia cheia delas e, inclusive, tive de sair pra comprar uma dúzia de calcinhas novas só pra ter de reserva. Ainda hoje acontecem acidentes (são infrequentes), mas o pior nós definitivamente já superamos. UFA, respiro aliviada!! Rsrs. Desde que as minhas aulas terminaram e eu comecei a ficar em casa de novo, as coisas começaram a entrar nos eixos. O tempo todo eu sabia que "a culpa" era minha (se é que existe um culpado), pois a Alícia raramente fazia xixi na calça enquanto estava na garderie, por exemplo. Lá ela fazia direitinho no vaso, mas era só estar em casa (ou na rua!) comigo ou com o pai que o negócio desandava. Era como se ela descuidasse de propósito, para se fazer de bebê e chamar a nossa atenção. Entendo que era a forma dela de lidar com todas as mudanças e estou FELIZ que esta fase tumultuada passou.

Bem, é isso. Comecei este post tem quase um mês, está mais do que na hora de publicá-lo!!

sexta-feira, 23 de maio de 2014

A nossa vida no Québec - Os últimos 8 meses (Parte 1)

Eba, voltei ao blog! Entreguei meu último trabalho na universidade em meados de abril e ainda estou me recuperando da maratona que foram os últimos oito meses aqui no Canadá. Que alívio e que alegria; agora posso finalmente me dedicar ao homeschooling!

E cá entre nós, ficar em casa é tudo de bom. :)

Meu nível de cansaço mental e físico nos últimos meses estava tão profundo que eu tinha a nítida visão e sensação de estar envelhecendo. Um ano e meio atrás eu disse que o trabalho de ficar em casa com os filhos cansava mais do que trabalhar fora o dia todo, não disse? E é verdade, cansa mais mesmo, mas agora descobri algo que para mim desgasta ainda mais: tentar conciliar as duas coisas - vida dentro e fora de casa, estudando em período integral, levando criança pra escola, tentando conciliar tudo. Eu sei que existem muitas mães capazes de lidar numa boa com a pressão de tantos afazeres e preocupações, trabalham fora o dia todo e ainda estudam à noite, mas eu sinceramente não consigo... eu fico à beira de um ataque de nervos!

Simplesmente não consigo educar à distância e ficar feliz com o resultado, sabe? As muitas horas fora e a constante preocupação de textos para ler ou trabalhos para fazer não me deixavam fazer em casa um trabalho que eu considero decente. Pior, viver esgotada também me impedia de curtir a maternidade, o casamento, meu relacionamento com Deus... enfim, no meu caso tudo vira obrigação e torna-se um fardo pesado demais para carregar (e admito que o problema também é porque eu não me contento em não dar o meu melhor nos estudos). Quando estou cansada dia após dia, fico irritada com facilidade e sem paciência para brincar com minhas filhas ou mesmo corrigi-las de forma amorosa. Acabo virando uma mãe brava e autoritária, e reajo a situações inesperadas como não gostaria de reagir. Agora que estou em casa, tomo precauções para não debandar para o outro lado: ficar bitolada com as preocupações da casa e não respirar ar puro (figurativamente) periodicamente para renovar as energias. Nada como o bom e velho equilíbrio para garantir que não "endoidemos", hehe.

Bem, há seis meses, em 20 de outubro, eu escrevi um relato (leia aqui) sobre nossa mudança para o Canadá e como estava sendo nossa adaptação ao novo país. De lá pra cá muitas novidades aconteceram, mas eu vou tentar resumir os pontos mais importantes.

Em retrospectiva - Um milagre após outro...
Vim para o Canadá com bolsa de estudos e, portanto, decidimos que o meu marido ficaria em casa nos primeiros meses de adaptação. Assim, ele poderia pessoalmente cuidar das meninas (para amenizar o choque da mudança) enquanto eu estudava. No fim de setembro (no mesmo mês em que chegamos), ele solicitou o work  permit pela internet e, três meses depois, recebeu o visto pelo correio. Ainda no fim do ano, ele já começou a procurar emprego pela internet, enviou currículos e chegou até a fazer algumas entrevistas e foi chamado para treinamento numa empresa. Apesar disso, a contratação na empresa onde ele está hoje só foi acontecer mesmo dois meses depois (reparamos que as coisas aqui andam mais devagar), em meados de fevereiro. Este foi o primeiro milagre! Chegamos no Québec, a única província francófona do Canadá, sem falar praticamente NADA de francês, e sabíamos que conseguir emprego aqui sem falar francês era algo muito difícil. A nossa oração sempre foi que ele pudesse trabalhar em algo em que falar bem o inglês e o português fosse o diferencial. E Deus nos ouviu! Ele não só conseguiu o "emprego ideal" (com um salário acima da média para quem está chegando no país), mas também foi contratado justamente no mês em que eu parei de receber a bolsa de estudos (que durou seis meses). Ou seja, não tivemos falta de nada! O tempo de Deus foi, como sempre, perfeito.

O segundo milagre foi a creche para as meninas. Serviço de creche no Canadá custa caro. O valor para apenas uma filha custaria praticamente o mesmo (ou mais) de um mês de aluguel no nosso apartamento de 2 dormitórios. Imagine então ter de pagar creche para duas filhas?! Para quem é residente temporário, as chances de conseguir pagar menos (por causa do reembolso do governo para residentes permanentes) diminuem. A nossa única chance de conseguir pagar menos seria por meio de matrícula em garderie administrada pelo governo, a chamada CPE (Centre de La Petite Enfance), algo que, o que mais se ouve por aqui, é praticamente impossível. Coloca-se o nome da criança numa lista de espera online ou direto na CPE e espera-se, por tempo indeterminado, por uma vaga. Ouvi relatos de mulheres que inscreveram o bebê assim que souberam estar grávidas e esperaram por anos, sem nunca serem chamadas. No fim de dezembro, consegui vaga para a Nicole começar numa CPE perto da universidade no início de janeiro. Era bilíngue e em período integral. No primeiro dia ela gostou muito, estava felicíssima de ser a new butterfly do grupo de crianças, mas foi só perceber que teria de ir todos os dias e passar muitas horas lá que começou a se desesperar. Ela precisava chegar antes das 9:30 da manhã para o início das atividades e tinha de ficar por pelo menos 5 horas direto, sob pena de perder o direito à vaga. Era inverno e quando a buscávamos já estava praticamente escuro (aqui o dia escurece às 4 da tarde no inverno!!), então ela voltava pra casa arrasada porque o dia já tinha acabado. Implorava para não ir mais e poder ficar em casa fazendo homeschool, principalmente porque ela sabia que a Alícia ficava o dia todo comigo (obs. Estávamos aguardando abrir uma vaga para a Alícia na mesma CPE já que agora a irmã estava lá e ela teria prioridade). Nesta época, o Douglas ainda procurava emprego e eu, sem botar fé que conseguiríamos vaga em alguma garderie pagável, no fim do semestre anterior tinha decidido passar o máximo de aulas para o período da noite. O resultado não poderia ser pior: quando a Nicole chegava em casa, eu já tinha saído para as minhas aulas!

O fato é que ela durou nesta CPE por apenas 2 semanas e 2 dias! Toda manhã era um escândalo e na creche ela ficava inconsolável, se negando a participar das atividades. Tanto que em alguns dias as educadoras precisaram nos ligar para buscá-la mais cedo. Quem conhece a Nicole sabe que ela não tem a menor dificuldade de interação e independência. Acontece que ela realmente estava com o coração partido, queria de todo jeito ficar em casa. Todo dia me perguntava porque precisava ir... eu explicava, mas ela continuava inconformada. Eu também não estava gostando de vê-la tão pouco todos os dias, então um certo dia eu propus a ela o desafio de orarmos e pedirmos a Deus uma solução para o problema. Pois a resposta de Deus chegou em menos de dois dias! Ela saiu dessa CPE e foi direto para outra muito melhor - desta vez totalmente francófona, em 1/2 período (apenas 4 horas por dia) e com vaga para as minhas duas filhas! A localização desta também era melhor já que, diferente da primeira, bastava sair do metrô e já estava quase na porta da garderie. E o melhor, por causa da carga horária reduzida, eu pagava para as duas o mesmo valor cobrado somente para uma na CPE anterior. Para completar, o esquema desta garderie era diferente: crianças de 18 meses em diante ficavam juntas o tempo todo, o que achei ótimo. Além das minhas filhas poderem ficar juntas (justamente o que eu queria), essa forma de trabalhar permite uma socialização muito mais saudável já que a criança aprende a lidar com faixas etárias diferentes. Ou seja, não podia ser mais perfeito, foi presente de Deus!

Resumindo, elas frequentaram esta CPE por um total de apenas 3 meses (do fim de janeiro até o fim de abril), mas foi um tempo muito memorável! Não iam todos os dias (a coordenadora não se importava desde que continuássemos pagando, rs), usávamos a creche somente quando eu precisava de verdade (por causa das minhas aulas e porque era cansativo demais ir com as duas de ônibus e metrô). Mas neste tempo, elas puderam aprender muitas palavras e musiquinhas em francês, se divertiram com os coleguinhas e, principalmente, sei que elas foram muito bem cuidadas pela equipe que tinha muito carinho por elas.

Esta foto foi tirada com a educadora preferida delas no dia da despedida.

Ah... antes de encerrar esta parte, preciso contar mais um detalhe do milagre do emprego do Douglas! Uma grande preocupação que tínhamos era com relação ao horário de trabalho dele. De cara, na entrevista, ele já foi avisado da possibilidade de ter de trabalhar no período noturno, até meia-noite, caso fosse aprovado no treinamento. Aceitamos a condição mesmo sabendo que eu estudava à noite 3 noites por semana e isso colocaria um peso terrível nos meus ombros. Significava que ou eu levava as meninas para a aula comigo ou corria o risco de perder o semestre! Pedimos a Deus por uma solução e descansamos nEle. O treinamento teórico, que estava previsto para durar 5 semanas, iniciou em 17 de fevereiro e, durante este período, o horário das 8:00 às 16:00 seria perfeito para ele buscar as meninas na CPE assim que saísse do trabalho. Pela manhã eu ficava com as meninas em casa, dava almoço e depois as levava para a garderie antes de ir para a universidade estudar. Passaram-se as primeiras cinco semanas e, na sequência, avisaram que eles teriam mais 2 semanas de incubação para treinamento prático, cumprindo o mesmo horário de trabalho. Como se já não bastasse tanta graça, a empresa iria receber gente importante na semana seguinte e todos os gerentes estariam ocupados para dar suporte. Sabem o que isso significou? Que o período de incubação foi estendido, calhando perfeitamente com a semana em que eu entreguei meu último trabalho da faculdade! Foi somente em 21 de abril, quando eu já estava de férias, que ele começou no novo horário de trabalho, das 16:00 à meia-noite.

A nossa vida de um mês pra cá - Praticando homeschooling!
Desde que minhas aulas terminaram, estou num ritmo de vida totalmente novo!! Está uma delícia fazer homeschool com as meninas. E com a nova rotina, estou até conseguindo fazer exercício físico! A primeira providência foi me matricular numa academia para fazer Pilates e outras aulas. Estava precisando muito me exercitar! Agora tenho tempo livre para ler por prazer (comecei dois livros - um é sobre educação, chama-se Dumbing Us Down - The Hidden Curriculum of Compulsory Schooling e outro sobre saúde reprodutiva, chama-se Taking Charge of Your Fertility - The Definitive Guide to Natural Birth Control, Pregnancy Achievement, and Reproductive Health), algo que era impossível de fazer quando eu estudava full time.

Haha, já deu pra perceber que eu estou bem feliz com as mudanças, né! :)

Para o homeschool optei por usar dois programas ao mesmo tempo. Os dois são cristãos. Um é gratuito (Easy Peasy All-In-One-Homeschool) e o material está todo na internet. Comecei do Getting Started 1 (bem do início) para que a Alícia consiga acompanhar com a Nicole. Fizemos o Day 25 hoje (ainda tem chão, são 222 dias essa primeira parte!). A proposta do Getting Started 1 e Getting Started 2 é que a criança aprenda a ler cedo para que possa trabalhar sozinha quando começar o Level 1. Eu não tenho intenção nenhuma de acelerar as coisas... quero ir no tempo delas. Porém, vejo que elas estão ávidas por aprender. A Nicole me pede para estudar! As lições são bem gostosas e curtas o suficiente para que a Alícia, que ainda nem completou 3 anos, consiga acompanhar - ela está aprendendo a clicar com o mouse, rs. Eu prevejo que no futuro, quando ela crescer e ganhar mais maturidade, eu tenha de refazer muitas lições com ela, mas pode ser que eu esteja enganada. Só a experiência dirá. Quase todo dia tem alguma sugestão de craft para fazer, e quase sempre inclui pintar, recortar e colar. Pra mim se tornou terapia! Como não temos impressora, eu já fui algumas vezes à faculdade e imprimi com antecedência uma quantidade razoável de lições de que vamos precisar.

Hoje excepcionalmente usamos canetinhas para fazer o craft,
mas normalmente usamos lápis de cor (Nicole) e giz de cera (Alícia).

O outro currículo que usamos é da mesma empresa de quem compramos livros no ano passado (Sonlight Christian Homeschool Curriculum). Desta vez, comprei o Pre-Kindergarten Program para crianças de 4-5 anos. O pacote anterior, Preschool Program, para crianças de 3-4 anos, nós já tínhamos e o trouxemos na mala para cá. Simplesmente amamos o tempo de leitura no sofá! Terminamos hoje a Week 4 com elas (cada ano tem 36 semanas). O tempo diário previsto para as atividades desse programa é 20-40 minutos e dá para fazer a qualquer hora do dia. Os Read-Alouds (as leituras em voz alta) têm bastante poesia, rimas, contos e curiosidades em geral. Às vezes lemos e encenamos a história para recontá-la ao papai depois. Uma novidade no programa deste ano é um livro sem imagens, só de texto. No começo foi difícil para a Nicole e exigiu um tipo de concentração diferente já que o seu hábito era ficar do lado "lendo" as ilustrações enquanto eu lia em voz alta. Mas agora percebo que já estamos engrenando melhor e aos poucos ela está se acostumando a usar a própria imaginação.

Como gostei muito do Mighty Mind que veio no kit do ano passado, acrescentei ao pacote deste ano, por um valor à parte, um material de matemática chamado Patternables. São figuras geométricas que acompanham folhas com desenhos para as crianças encaixarem. Elas gostam muito de montar com as pecinhas. Além disso, usamos muito o ipad tanto para exercícios de matemática quanto de alfabetização. Tem cada aplicativo maravilhoso! Como devem ter percebido, não sou contra tecnologia para crianças. Acho que devemos usá-la, com sabedoria, a favor da nossa educação. É uma ferramenta muito útil. Esclareço ainda que, curiosamente, matemática e alfabetização são as únicas duas matérias de metodologia de ensino que ainda não cursei na faculdade (sou estudante de Pedagogia). Por isso, quando voltarmos para o Brasil, agora no próximo semestre, estou ansiosa para saber o que os teóricos da educação têm a dizer sobre essas duas áreas. Vai ser interessante!  Terei a oportunidade de estudar a teoria de algo que eu já estou adquirindo um certo "saber fazer" (e, claro, formulando minhas próprias concepções teóricas) e isso, com certeza, vai potencializar minha capacidade de crítica durante o curso.

Finalmente, às vezes ouço mães que gostariam de homeschool dizer que acham excelente, mas que não se consideram suficientemente organizadas ou disciplinadas para fazê-lo. Pode ser ilusão minha de principiante, mas estou usando dois programas diferentes e posso garantir que não toma tanto tempo assim - no máximo 2 horas por dia, mas pra falar a verdade raramente chega a tanto! As meninas ainda têm tempo de sobra pra brincar, assistir desenho, e fazer outras atividades livres. No momento, a Nicole também está fazendo aulas de piano e de balé durante a semana. Como eu sou muito simpatizante do unschooling, prezo mais o raciocínio e lógica do que conteúdo em si. Minha filosofia tem sido me permitir toda autonomia e liberdade de que preciso para fazer ajustes conforme a vida pede pois, é tanto impossível como indesejável seguir uma rotina rígida. Por exemplo, o meu horário ideal de fazer as atividades é pela manhã, logo após o café (digo meu porque é quando meu cérebro está mais ativo), mas neste um mês de experiência, houve dias em que não foi possível fazer toda manhã, então fizemos de tarde ou de noite. Outros dias, pra ser sincera, nós nem fizemos!! Mesmo assim, estamos "em dia com a matéria", ou seja, cumprimos com o programa sugerido para a semana. Pelo menos neste estágio, o programa é bem simples... o principal, ao meu ver, é o que elas aprendam com a vida e que sejam instigadas pela curiosidade natural à medida que fazem perguntas. A curiosidade infantil é aguçada! Como muitas coisas que eu não sei explicar ou não lembro direito, pesquisamos juntas no google e no Youtube. Olha só os temas que já exploramos (sem esgotá-los, é evidente) nas últimas duas semanas que nada tiveram a ver com o programa oficial de estudos:

- Porque o céu fica laranja no pôr-do-sol;
- Que "bicho" é a joaninha é antes de virar joaninha;
- O que é um furacão; - O que as cobras comem;
- Como as aves constroem seus ninhos (assistimos a alguns vídeos sobre o joão-de-barro):
- Porque a gente tem febre.

Eu tenho outros assuntos relevantes sobre os quais ainda gostaria de escrever, mas o post está ficando longo demais. Vou deixar para começar um novo em breve. Espero conseguir me organizar para voltar a escrever no blog com mais frequência...

Confira a parte 2 aqui.

Um grande abraço a todos e todas que me leem!