O relato de parto que venho publicar hoje é de uma amiga muito querida no Brasil que pediu para eu não divulgar o nome das pessoas da sua família. Nos conhecemos há mais de 2 anos e ficamos amigas porque éramos da mesma igreja e nossas filhas têm a mesma idade (com diferença de poucos meses). Como ela também se sente chamada a praticar o homeschooling, no 1o semestre de 2013 fizemos encontros quinzenais (play dates) com as nossas filhas que deixaram muitas recordações!
Quando deixei o Brasil, em 01/09/2013, ela havia acabado de completar 40 semanas de gestação de sua 3a filha. A bebê nasceu no dia seguinte! Foi um parto natural EM CASA como ela havia sonhado e orado a Deus. Seus dois primeiros partos foram normais também, porém hospitalares e cheios de intervenções, e ela queria muito viver uma experiência natural desta vez. Lembro de várias conversas que tivemos sobre este assunto durante a gravidez (já que é um assunto de que eu gosto muito, rs), sei que ela pegou dicas com outra amiga que também teve partos domiciliares (dois!), frequentou um grupo de apoio à maternidade, conversou bastante com o marido e, principalmente, pediu direção de Deus até se sentir em paz com a decisão. Enfim, ela pesquisou e se informou o máximo que pôde sobre o assunto para tirar dúvidas em relação ao que era melhor: parir em hospital, em casa de parto, ou em casa? Com ou sem doula? Com obstetra ou obstetriz (parteira)?
Abaixo segue o relato que ela me enviou (escrito dois dias após o nascimento da bebê e que eu editei para preservar a privacidade das pessoas envolvidas).
Relato de Parto – escrito em 04/09/2013
DUM 24/11/2012
Que alegria, estava
grávida de mais um bebê. Queria muito essa gestação apesar dos
temores. Fiquei feliz. Já fazia um tempo que havia desmamado a
minha segunda filha, estava menstruando desde de julho e só fui engravidar mesmo
em dezembro.
A gestação foi
normal, perfeita, cheguei aos 75kg como nas outras duas, strepto B
negativo, que bom, tudo perfeito. US de 38 semanas disse que ela era
pequena com 2700g, mas na verdade ela não era pequena, nasceu bem
com 3450g.
Durante a gestação
fui aprendendo sobre o parto, as intervenções, conheci o GAMA e
passei a ir nas reuniões de 5a feira. Foi muito bom. Tomei coragem, nos
conscientizamos e decidimos pelo parto domiciliar. Passei com a parteira de uma amiga, mas não gostei. Passei com outra parteira e resolvi
ficar com ela porque ia ser um pouco mais barato. No final, com 38
semanas resolvi mudar de parteira novamente porque achava esta menos intervencionista, mais preparada para intercorrências, mais moderna e mais profissional. A anterior tinha certos métodos
(aminioscopia, estourar bolsa, massagem, etc.) que eu não queria.
Dia 31 de agosto,
sábado, completei 40 semanas. O tampão saindo aos pedacinhos e pedações
durante a semana inteira, sentia a barriga pesada e uma pressão
maior no períneo. Passei no médico na 3a feira, dia 27, e ele disse que
estava com 4-5 cm de dilatação. Achamos que o parto poderia ser a
qualquer momento. Na 4a feira eu queria ir ao mercado, mas estava com medo
de entrar em trabalho de parto e liguei para a parteira para ela me
examinar. Ela disse que o colo estava posterior e que essa dilatação
era residual por ser a 3a gestação, que eu poderia ir ao mercado porque ainda não era a hora. Dia 31, sábado, foi o picnic da igreja, queria
muito ir, mas não estava em paz. Acabei entendendo no meu
coração que tem tempo pra tudo e que naquele momento eu deveria me
submeter às minhas circunstâncias. Era tempo de ficar quieta e
aguardar. Tive poucas cólicas que vinham e iam. Domingo também, algumas
coliquinhas pela manhã, à tarde passou, voltou a noite. Mandei uma
mensagem pra parteira no domingo à noite. Tínhamos ido ao Habib's com
as meninas para
elas brincarem um pouco (pois passamos o final de semana de molho em casa), mas eu estava tendo as coliquinhas lá no
restaurante. De lá mesmo mandei mensagem pra parteira, que ficou de
sobreaviso.
Na hora de dormir, domingo, eu estava cansada. Pensei
comigo mesma: "Eu não vou entrar em trabalho de parto essa noite, eu
vou dormir. Quero estar descansada". Dormi mesmo, dormi bem, não
senti NADA. Acordei tranquila. Quando fiz xixi pela manhã, percebi uma
gotinha de sangue no papel. Lembrei do que a minha mãe havia dito,
que isso foi um sinal pra ela de que o parto estava chegando, mas
pensei: “De pequenos sinais estou cheia. Pode ser agora ou não". Não estava sentindo nada. Mandei uma mensagem pro meu pai pela
manhã:
Oi Pai,
Dormi bem, não tive cólicas durante a noite. Hoje de manha, saiu um pontinho de sangue, menos que uma gota. Esta progredindo, mas neste momento não estou sentindo nada. Fiquem tranquilos porque eu vou perceber quando começar. Bjs. |
Tomei banho, desci, dei café para as meninas e tomei café. Quando ia começar a arrumar a cozinha, tive uma contração forte. Era 8:30.
Pensei: “Essa foi forte. Não vou poder ficar aqui sozinha com
as meninas se continuar assim. Vamos ver se vai engatar…”.
Dez minutos depois, outra contração igual. Nem terminou a contração, já liguei para o meu marido. Falei pra ele que tive duas cólicas fortes e que
não poderia ficar em casa sozinha, falei pra ele vir pra casa pra
ficar comigo e me ajudar a cuidar das meninas. Ele disse que só
poderia vir mesmo se fosse para a neném nascer, mas que ele iria
falar com o chefe e ver se poderia vir, e que me ligaria de
volta. Liguei para minha mãe e disse pra ela o que estava
acontecendo, que ele viria logo e que ela poderia vir pegar
as meninas pelo meio-dia (nem imaginava que tudo seria tão
rápido!).
Dez minutos depois meu marido liga de volta, diz que está vindo. Eu confirmei dizendo que se não fosse um parto domiciliar, ele teria que me levar para o hospital naquele momento. Isso o tranquilizou
de que realmente era hora de vir pra casa. Ele me mandou ligar para a
parteira e pedir pra ela vir me ver. Eu resolvi terminar de
arrumar a cozinha pra ligar pra ela depois, pois sabia que ela
chegaria rapidamente, já que ela morava perto. Tentei terminar de
arrumar a cozinha, mas tive uma outra daquelas contrações que me
interrompeu e me assustou... resolvi ligar pra ela naquela hora! Ela perguntou de quanto em quanto tempo, falei que achava que de 10
em 10 minutos. Ela estava cansada pois tinha passado a noite em
claro com outro parto, pediu para que eu contasse quantas
contrações na próxima meia hora e então retornasse pra ela. (Sério?!
OK).
Meu marido chegou em casa às 9:30, eu estava andando pela sala.
A minha filha mais velha, que fofa, segurava na minha mão e ia andando comigo
enquanto eu vocalizava. Foi muito especial ter o suporte dela nessa
hora. Muito, muito especial mesmo. Eu perguntei pra ela se ela
estava com medo, ela disse que não e ela me perguntava se a bebê
estava chegando. Eu não tinha certeza ainda (rsrs!), mas dizia pra
ela que achava que sim. Quando o meu marido chegou, passei a lista pra ele
do que precisava ser feito: 1) cronometrar as contrações para a parteira, 2) arrumar as meninas, 3) encher a banheira e 4) ligar para a minha mãe
pra pegar as meninas AGORA.
Eu precisava de quietude, a dor era intensa e estava tudo muito agitado. A parteira liga e pergunta como está, meu marido diz que de 3 em 3 minutos, ela diz: “Opa, estou indo!”. Acabei indo para o quarto e fechei a porta. Fiquei lá e via o meu marido arrumando as meninas, enchendo a banheira, eu não tinha a menor condição de ajudá-lo. A dor era tanta, me ajoelhei no chão, apoiei minha cabeça na cama e fiquei ali. Vinha e voltava, mas entre as contrações ficava ainda uma dorzinha. Era tão rápido e já vinha outra. Eu queria água, ele ocupado, pensei: "Não tenho a menor condição de descer para pegar água". Fiquei ali mesmo, queria trocar de roupa, ir para o banheiro, para o chuveiro, precisava me acomodar de alguma forma, porque a dor estava forte. Eu pensava: "São 9:30 da manhã, acho que não vou aguentar até 12:00 com essas dores. Meu Deus, me ajude!". O versículo que Deus havia me dado para este parto era Salmos 28:6-7a: "Bendito seja o Senhor, pois ouviu as minhas súplicas. O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele o meu coração confia, e dele recebo ajuda". Dele recebo ajuda. Dele recebo ajuda. Soava no meu coração. Pedia graça, forças.
Eu precisava de quietude, a dor era intensa e estava tudo muito agitado. A parteira liga e pergunta como está, meu marido diz que de 3 em 3 minutos, ela diz: “Opa, estou indo!”. Acabei indo para o quarto e fechei a porta. Fiquei lá e via o meu marido arrumando as meninas, enchendo a banheira, eu não tinha a menor condição de ajudá-lo. A dor era tanta, me ajoelhei no chão, apoiei minha cabeça na cama e fiquei ali. Vinha e voltava, mas entre as contrações ficava ainda uma dorzinha. Era tão rápido e já vinha outra. Eu queria água, ele ocupado, pensei: "Não tenho a menor condição de descer para pegar água". Fiquei ali mesmo, queria trocar de roupa, ir para o banheiro, para o chuveiro, precisava me acomodar de alguma forma, porque a dor estava forte. Eu pensava: "São 9:30 da manhã, acho que não vou aguentar até 12:00 com essas dores. Meu Deus, me ajude!". O versículo que Deus havia me dado para este parto era Salmos 28:6-7a: "Bendito seja o Senhor, pois ouviu as minhas súplicas. O Senhor é a minha força e o meu escudo; nele o meu coração confia, e dele recebo ajuda". Dele recebo ajuda. Dele recebo ajuda. Soava no meu coração. Pedia graça, forças.
Decidi que tinha de me trocar, juntei forças e
levantei, me troquei e fui para o banheiro. Meu marido tinha deixado
um treco embaixo da banheira, estava super desconfortável para
pisar ou entrar na água. Fiquei tentando levantar a banheira (que
já estava meio cheia) pra tirar aquele treco, consegui! Me
acocorei lá dentro com a água batendo nas minhas costas e fiquei
lá. Nesse tempo chega minha mãe, e a parteira. E eu lá fazendo
os meus barulhos, com as minhas cólicas, acocorada dentro da
banheira. Não sei muito bem como foi, só lembro da parteira chegando com um sorriso, me chamando de querida, e perguntando se
eu ia botar um ovo hoje. Eu ri e disse que sim, um ovo bem
grande! Rsrs.
Acho que eu cumprimentei minha mãe também, mas não
tenho certeza. De repente aparece o meu marido, pedi pra ele tirar foto.
Eram cólicas muito fortes, fiquei ali de quatro com a água batendo nas
minhas costas. Quando apoiava a cabeça na banheira, conseguia
relaxar mais as costas, os ombros e a dor era melhor. O meu marido queria falar comigo, mas eu pedia pra ele não falar porque eu não
tinha como me concentrar no que ele estava falando, eu precisava
ficar bem fechada em mim mesma. Orava, queria chorar, queria
fraquejar, mas falava pra mim mesma: "Tenho de ser forte, não
posso fraquejar". Fraquejava e me erguia, foi uma luta interior
naquele momento. Orava. De repente, vontade de fazer força,
vontade de fazer cocô, falei para a parteira: "Quero fazer cocô!".
Ela disse: “É a neném, querida! Não é cocô, é a neném,
pode vir, deixa vir".
E assim a força veio, sozinha, eu só me
rendi, e a cabecinha começou a sair. UAU! Eu não acreditava que
já estava nascendo, doía, mas era muita emoção, uma mistura de
medo, alegria e dor, muita dor, tudo tão rápido. Pus a mão lá
embaixo e senti a cabeça dela. UAU! Foi saindo. Pedi para o meu marido pôr
a mão ali e sentir a cabeça dela, meio pra dentro, meio pra
fora. Que loucura! Que emocionante! Foram 4 contrações para ela
sair. Entre as contrações do expulsivo, eu estava maravilhada! Conseguia esquecer da dor, porque estava muito maravilhada! Durante muita dor, mas já estava no final. Senti arranhar por dentro, mas era
menos dolorido do que a contração porque a contração durava 1 minuto
ou um pouco mais e o arranhão eram 2 segundos. Ela nasceu! Eu
estava chocada, como havia sido rápido!
Eram 10:25, e a minha bebê nasceu. Eu perguntava se ela estava bem, pois esse era o meu medo.
E a parteira dizia: "Ela está ótima querida, ótima"! UAU! Eu
peguei ela no colo, estava em choque, como foi rápido, que
sensação impressionante, ela tinha saído de dentro de mim,
passado pelo canal vaginal e estava chorando em meus braços. Que
especial! Minha bebê. Que linda! Que perfeita! Obrigada, Deus!
Uau, já tinha terminado. Ficamos ali uma meia hora. Minha mãe
apareceu com as meninas. Tiramos fotos. Foi demais! Saí da banheira e fui pra cama.
Fiquei com a bebê no colo, ela chorava, mas pouco, ficava a maior
parte do tempo quietinha, respirando e mexendo os bracinhos, as
mãozinhas e os dedinhos. Que fofinha. Logo saiu a placenta, com
mais umas contraçõezinhas. Mas tranquilo. Carimbamos a placenta.
Ela mamou, sugava tão bem. Forte. Sugou por 1h. Depois cortamos o
cordão.
A parteira desceu e me deixou sozinha com o meu marido e a
neném. Ficamos ali, que lindo! Contemplando, digerindo todo aquele
momento. Coloquei a minha roupa novamente e ligamos rapidamente no Skype para passar a noticia para os pais do meu marido. Nem havíamos
pesado a bebê ainda. Falamos rapidamente com eles, voltamos pra
cima, pesamos a bebê, estava tudo bem.
A parteira foi embora, minha
mãe levou as meninas pra almoçar na casa dela e passar a tarde
com as primas. Meu marido comprou duas
marmitas no bar da esquina e nós almoçamos juntos, com a neném do nosso lado. Que momento especial. Que fome! Foi lindo,
perfeito, abençoado, demais! Melhor parto, falei que se tiver
outros, não quero hospital de jeito nenhum! E dessa vez, se eu
deixasse pra ir pro hospital às 8:30, na hora em que começaram as
contrações, provavelmente a neném teria nascido no carro. Deus
tem sido muito bom conosco! Obrigada, Senhor! Tu és fiel!!
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