(Este post é continuação do de ontem. Para lê-lo clique aqui!).
Relato
do Parto da Giulia
O
positivo
A
Giulia veio inesperadamente. Parei com o anticoncepcional por causa
das dores pós-parto do Lorenzo. A solução da médica para acabar
com meu problema era aumentar os níveis de estrogênio. Ou eu parava
a pílula e via se meu organismo reagia sozinho ou eu tomava uma
pílula tradicional e corria o risco com a amamentação. Como eu já
tinha tentado de tudo para acabar com o problema, resolvi tentar
parar com o anticoncepcional já que correr risco com a amamentação
estava fora de cogitação.
Em
outubro, já tinha passado da data da minha menstruação vir e
resolvi fazer um teste. Negativo. Passou mais uma semana e nada da
minha menstruação, fiz outro teste e a segunda linha apareceu bem
fraquinha. Comprei um terceiro teste, mais confiável, e repeti dois
dias depois. A lista estava lá, bem nítida. Eu estava grávida, de
novo... Feliz por um lado, mas em pânico por outro.
A
gravidez
Eu
liguei em todas as clínicas da minha cidade e não consegui nenhuma
vaga para fazer pré-natal. Grávida de umas 6 ou 7 semanas e ninguém
tinha vaga?? Começou meu desespero. Também liguei nas duas casas de
parto possíveis e me inscrevi na fila de espera sem nenhuma
esperança. Em uma última tentativa consegui um médico para o
início de dezembro. O problema é que eu verifiquei as referências
sobre o tal médico na internet e era terrível. Ele tinha usado
fórceps e deixado um bebê com sequelas. Decidi que não iria nele de
jeito nenhum. Era melhor encarar uma gravidez sem pré-natal.
Decidi
então que iria parir em casa com uma parteira tradicional. O problema
é que eu precisava de um médico de qualquer maneira. Como ela não
era “legal”, não tinha como solicitar exames e em uma
emergência, era melhor ter um prontuário aberto em algum hospital.
Consegui uma médica na cidade vizinha por indicação de uma
conhecida. Ela me sugeriu outra cesárea logo de cara e eu disse que
gostaria de tentar de novo. Ela disse que me ajudaria. Sai de lá
confiante. Pelo menos, se eu precisasse de médico, ela parecia ser
uma opção razoável.
Novas
consultas e novas emoções. Meu exame de urina acusou presença de
strepto B. A médica, muito calma, disse que eu tomaria antibiótico
durante o TP e pronto. E como eu faria com o antibiótico em um PD? Além
disso, ela me disse que provavelmente começaríamos uma indução às
37 semanas para evitar que o bebê nascesse muito grande. Começou
meu desespero de novo. Somado a tudo isso, horas de espera por uma
consulta de 5 minutos.
Com
20 semanas eu decidi que não iria mais para as consultas. O prontuário
já estava aberto e eu decidi que ir ao médico era tortura
desnecessária. Toda vez que eu tinha consulta eu me sentia mal
antes, durante e depois. Na mesma semana que eu tomei este decisão,
a casa de parto me ligou e tinham uma vaga para mim!
O
pré-natal na casa de parto foi excelente. Consultas de 1h, muito
carinho, tiravam todas as minhas dúvidas, me davam informações e
nada foi imposto. Todos os procedimentos foram discutidos comigo e
cabia a mim decidir se eu queria ou não (inclusive o antibiótico para o strepto
B). E eu poderia parir em casa se eu quisesse! Tirando a questão do
strepto que me atormentou a gravidez toda, a partir deste momento eu
me senti em paz.
Eu
não vi a gravidez passar até que comecei a sentir contrações
demais (por volta de umas 32 semanas) e a parteira me pediu para
“repousar” o máximo que eu conseguisse para não nascer
prematuro, se não, eu teria de ir para o hospital.
O
parto
De
domingo para segunda-feira (17/06 – com quase 38 semanas), os
meninos quiseram dormir com a gente. Por volta das 6h da manhã,
Lorenzo acordou querendo mamar. Eu estava amamentando-o quando veio
uma contração e eu senti um pouco de líquido escorrer. Levantei-me
e vi que realmente tinha vazado líquido, além do tampão também
ter saído.
Arrumei
os meninos para a escola, avisei minha amiga e ela veio ficar comigo.
Saímos para a casa de parto já era quase hora do almoço e nada de
contrações ou pelo menos nada diferente do que eu já vinha
sentindo. O mais estranho é que o líquido parou de vazar. A
parteira me examinou, fez dois testes e disse que provavelmente não
era líquido, só lubrificação comum do final da gravidez.
Voltei
para casa, o marido foi para o trabalho de bicicleta e eu fiquei de
buscar as crianças. Passamos uma tarde agradável. Eu fiquei na
bola, forramos a cama e resolvi deixar as roupas dos meninos
separadas para uma emergência. Minha amiga ainda ficou tirando um
barato do meu alarme falso. No final da tarde, eu comecei a sentir as
contrações mais fortes, mas ainda sem ritmo e não me preocupei.
Fui ao supermercado, preparei as coisas para a minha reunião e busquei
os meninos na escola. Eu estava meio indisposta, mas atribui ao
cansaço já que tinha dormido mal. Falei com a minha mãe no skype e
ela me perguntou o que estava acontecendo porque minha cara estava
estranha. Eu disse que não era nada, só cansaço mesmo e como
estava calor, eu estava um pouco indisposta. Engraçado como eu não
percebi que as contrações tinham mudado e minha mãe, do outro lado
do mundo, era capaz de perceber que algo estava diferente. Eu cheguei
a me esconder na cozinha em uma das contrações para minha mãe não
me ver!
Fui
para a reunião por volta das 19h e comecei a cronometrar as
contrações. Elas duravam no mínimo uns 45 segundos e vinham a cada
15 minutos. Tentei me distrair o máximo que eu pude, mas eu
simplesmente não conseguia disfarçar, nem me mexer na hora da
contração. Mandei uma mensagem para meu marido perguntando se não
era melhor eu ligar pra parteira de novo, mas ele achou que ainda não
precisava, que era cedo. Por volta das 22h, esperei passar uma
contração, peguei o carro e vim pra casa. Deu tempo certinho de eu
estacionar e veio outra.
Chegando
em casa, pedi para o meu marido colocar as crianças para dormir e ele
acabou dormindo também. Fui para o banho com a bola. Enquanto eu
tomava banho eu quis desistir. Fiquei pensando onde eu estava com a
cabeça quando resolvi ter esse bebê. Eu devia ter decidido por
outra cesárea porque passar 3 dias com estas dores e ainda aguentar
o TP (trabalho de parto) todo não ia ser moleza (eu estava me baseando no TP do
Lorenzo). O bom é que esse desânimo passou rápido. Conversei com
meu bebê e disse que se ele quisesse vir, eu estava esperando e
pronto, que a gente ia conseguir. Por incrível que pareça saí do
chuveiro mais calma. Era um pouco antes das 23h. Tentei acordar meu
marido, mas ele disse que ia descansar porque eu podia precisar dele
no outro dia e ele estava muito cansado.
Fiquei
na sala sozinha com minha bola e eu tentava arrumar uma posição
cada vez que vinha a contração, mas todas as posições eram
péssimas e eu comecei a sentir muito sono. Deitei no sofá e tentei
dormir. Eu dormia exatos 10 minutos e lá vinha a contração. Eu
tinha que levantar porque deitada era tortura demais. Fiquei assim um
pouco mais de uma hora quando comecei a sentir frio também. Vesti
meu pijama e minhas meias de inverno porque me deu até tremedeira e
fui deitar na minha cama. Eu tive umas duas ou três contrações na
cama com um intervalo de uns 7-8 minutos. De repente, outra contração
e eu resolvi ficar de quatro. A bolsa estourou, mas estourou mesmo.
Fez barulho e saiu muita água. Molhou a cama, o chão, tudo. Meu
marido me ajudou a ir para o chuveiro e do banheiro mesmo ligamos
para a parteira e para a doula. Era um pouco mais de 12h30.
Elas
falaram que já estavam vindo, mas eu já não conseguia nem falar
nesta hora. As contrações vinham a cada 2 minutos e duravam mais de
1 minuto cada. Mal dava tempo de eu respirar entre elas. A casa
estava uma zona. Imaginem que meu marido tinha ficado sozinho com as
crianças por 3h. Tinha brinquedo espalhado por tudo, a pia cheia de
louça, um caos. Ele me deixou no banheiro e foi arrumar um pouco a
bagunça. Ah, e ainda pediu pra eu passar uma água nas minhas roupas
pra tirar a meleca...
Eu
fiquei no chuveiro com a bola até a primeira parteira chegar. Ela
tentou ouvir o coração do bebê umas 3x entre as contrações, mas
não conseguiu e pediu pra eu sair só um pouco para ela ouvi-lo e eu
poderia voltar. Eu nem sei como cheguei até a minha cama. Ela ouviu
o coração e perguntou se poderia me examinar. Eu deixei morrendo de
medo de não estar dilatada com toda aquela dor (traumas do Lorenzo
ainda), mas eu estava com 9 cm!
Eu
fiquei tão feliz, pelo menos faltava pouco e eu não ia ficar com
aquela dor 3 dias como eu estava imaginando. Logo em seguida a outra
parteira e a doula chegaram e eu já comecei a sentir os puxos. Foi
muito rápido. Eu não tive nem coragem de mexer e fiquei deitada de
lado na cama, do jeito que eu estava. Veio
aquela vontade de fazer força e eu me segurei. Eu confesso que
fiquei morrendo de medo de rasgar tudo de novo. A doula me deu a mão
e me lembrou que eu não precisava ter medo, que se eu quisesse podia
colocar a mão pra ajudar, assim, eu sentiria o bebê nascendo. Foi
ótimo, me deu o maior ânimo colocar a mão e sentir o bebê
coroando. A contração veio e eu não fiz muita força, fiz força o
suficiente só para a cabeça não voltar pra dentro. Senti queimar e
depois a cabecinha saindo. Me deu um alívio tão grande! Ninguém
puxou minha bebê e nem me apressou para ela terminar de sair. A
parteira viu se não tinha circular de cordão e esperou. Quando a
contração veio de novo, eu empurrei o corpinho e senti ela saindo
inteirinha. Peguei ela e a abracei. Tão linda! Toda cheia de vernix
e sem sangue!!!!
Ninguém
viu o sexo. Puseram um paninho sobre ela para aquecer e fui eu que vi
que era uma menina! Peguei no cordão também, senti ele pulsar, a
textura. O marido que cortou o cordão e decidimos guardar a placenta
para plantarmos mais pra frente.
A
primeira parteira chegou em casa por volta da 1h30 e a Giulia nasceu
à 1h48 da manhã do dia 18/06/2013, com 51cm e 3125g. Ela
não sofreu nenhuma intervenção. Não teve colírio, vitamina K,
antibiótico, nada. Nasceu na hora e da maneira que ela quis e eu não
tive nenhuma laceração (oba!).
Realmente
cada parto e cada bebê é único. Foi tudo muito diferente do que eu imaginei e não podia ser mais perfeito. Foi um caminho longo, onde
pude contar com pessoas especiais (obrigada!!!) e que curou muitas
das minhas feridas. Espero que a minha história sirva de inspiração
para outras mulheres e que elas se sintam realizadas assim como eu!
Nascimento do Pietro - Cesariana eletiva no Brasil. |
Nascimento do Lorenzo - Parto normal hospitalar no Canadá. |
Nascimento da Giulia - Parto natural domiciliar no Canadá. |
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